Autor(a):

Cláudia Azambujo

A Fissura

Na lascívia da carne

Onde pecados se aninham

O corpo é altar de desenhadas tentações

Riscadas a dedos

A dois

Entre sombras e luzes

Entre o prazer desmedido e a entrega em heresia

A alma rodopia sob estranha agonia

É dança quase perfeita

Entre culpa e euforia 

Os olhos, escotilhas da luxúria

Abrem-se concupiscentes

Como sementes lançadas ao vento

Com a evidente previsibilidade do intento

Enquanto lábios sorvem o néctar

Bebido em tragos crescentes

As mãos, ferramentas de prazer e pecado

Exploram na pele segredos, sem freio ou cuidado 

São cicatrizes de deleite deliciosamente infligidas

O corpo torna-se palco de batalhas sem fim ou início 

Entre céu e o abismo

Mas na escuridão dos desejos mais profanos

Há suprema chama de redenção

Que o corpo não seja apenas bocados de pecados

Mas de amor em cada olhar

Em cada mão

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AUTOR(A)
Cláudia Azambujo

Cláudia Azambujo, natural de uma pequena aldeia do concelho de Montemor-o-Velho, descobriu ainda adolescente a poesia como forma de evasão e de esvaziamento da alma.

Idealista e adepta de longas caminhadas por praias e serras, adora embrenhar-se nas palavras, na natureza e no silêncio. É nesse recolhimento, longe da azáfama do dia a dia e da rotina apressada, que se envolve em palavras, versos, poemas e emoções puras.

Reside na Figueira da Foz, onde é professora, com licenciatura em Português e Inglês. Quando deixa a escola, ao final da tarde, leva as palavras consigo e organiza-as, sobretudo em versos, na poesia que em si permanece.

Desde criança apaixonada pela leitura, era também ao final da tarde, ao chegar da escola, que se recolhia no quarto a ler. Hoje a leitura e a escrita são parte da sua vida e do seu conhecimento do mundo e de si.

Gosta de pensar que parte sempre do nada na sua escrita. Às vezes é uma palavra que ganha peso, um olhar, ou uma frase que escuta e lhe fica a bailar no pensamento.

Em 2023 publica o seu primeiro livro de poesia “A Escrita Que Me Lê”, livro parido com muita emoção. Continua a escrever, a sonhar e, sobretudo, a querer.

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