A Paz Travestida

A paz travestida

Uma criança brinca com um carrinho

quando chegam mais três crianças e a rodeiam num círculo.

E mais seis, e mais nove.

E vão formando um círculo tão grande

que já passa para lá do jardim

onde a primeira criança

brincava sozinha com um carrinho.

Um círculo colorido

com uma roda de cada cor

e as sete cores do arco iris.

Juntou-se uma multidão a ver o que se passava.

As crianças iam chegando,

mais e mais,

com os cabelos coloridos

e os olhos a brilharem de uma alegria contagiante.

Chegaram bandas de música de bonecos animados.

Um hipopótamo, que tinha sido eleito o maestro,

caiu para trás,

num movimento de batuta menos ensaiado,

que provocou uma gargalhada geral.

Teve de ir quase metade da banda buscá-lo.

O terreno era inclinado

e o maestro rebolou até um pequeno lago

de onde os peixes ainda conseguiram saltar a tempo.

Era a união entre Deus e os homens.

O lugar da Luz.

 

Noutra zona do planeta

outra criança brincava com um carrinho

quando chegaram mais três crianças,

em carrinhos de guerra,

de rodas grossas, de lagartas, com canhões incorporados.

E mais doze e mais vinte e cinco e mais cem.

E fizeram um quadrado enorme

numa zona inóspita,

onde não nasciam flores, e não havia vida.

Só fome de matar.

Uma figura sinistra e assustadora

flutuava entre o céu e a terra,

comandante de um exército que parecia não ter fim.

As armas de guerra

apareciam de todo o lado,

como se o inferno tivesse aberto as portas

e o diabo estivesse a escolher as suas tropas.

 

Numa imagem colorida,

os peixes correm para o pão que lhes atiram

e as árvores estão quietas.

Uma criança loira, deitada na relva, recebe o Sol nos cabelos.

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AUTOR(A)
Carlos Rodrigues

Nasceu em Lisboa, cidade que aprendeu a amar desde muito cedo. Uma cidade cheia de luz e de cores. Uma cidade onde havia espaço e tempo.

Licenciou-se em Organização e Gestão de Empresas no ISEG e seguiu uma carreira profissional na indústria Seguradora.

Mas desde os tempos do Liceu Passos Manuel, onde fez parte de uma pequena turma de língua portuguesa, cuja professora lhe deixou o gosto pela escrita, começou a nascer nele o gosto por esta arte tão nobre. Tinha à data dezassete anos quando começou a ter encontros com alguns autores portugueses, escolhidos pelos alunos, para debaterem com eles as obras que iam lendo.

Foi o início de um percurso de vida onde a escrita e a leitura sempre estiveram presentes. Finalmente, em 2018, conseguiu reunir alguns poemas que fora escrevendo e publicou o seu único livro até hoje – Mulher dos Cabelos Cor de Sol.

Daí para cá, teve várias formações na área da escrita, nas suas diversas vertentes, no sentido de poder aperfeiçoar algumas técnicas que vem desenvolvendo.

Frequenta também um Clube de Leitura, que lhe tem proporcionado diversas sessões com os respectivos autores. Novas vozes, outras já menos novas, mas sempre enriquecedoras.

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