Nunca ninguém sabe a força que tem até a força se tornar a (nossa) única opção. Comecemos pelo fim. Nos dias de hoje, sou uma autora portuguesa, de 44 anos, com três livros publicados, conto com, aproximadamente, um milhão de seguidores no somatório das redes sociais, facilito cursos e workshops na área da escrita motivacional e de desenvolvimento pessoal, sou parceira internacional de uma das maiores empresas mundiais de Storytelling e, nas horas vagas, consigo ter um emprego normal das oito às cinco. Calculo que quererão saber em quanto tempo consegui «erguer» isto tudo. Um ano. Um ano, é o tempo que medeia entre uma mão cheia de projectos e uma série de palavras escritas em word, presas durante anos, guardadas numa pastinha amarela do computador.
Se sempre tive o sonho de conseguir isto tudo? Sim. Se sempre tive a coragem para o fazer? Nem por isso. Carlos Drummond de Andrade escreveu: «A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.»
Antes do fim, houve um início. Um início onde as dúvidas abundavam, as incertezas eram o que eu tinha de mais certo e onde a zona de conforto não se espraiava além da pastinha amarela do computador. Fiquei, durante anos, refém dos meus próprios sonhos. Optei (quase) sempre pelo que era mais certo, pelo o que era mais seguro, pelo que era mais expectável. No que é que isso resultou? Numa inquietação interna monstruosa que se estava a tornar (muito) maior do que eu. Tinha tudo o que o comum mortal poderia desejar. Tinha um emprego mediano, com um horário mediano, mais um salário mediano e uma vida mediana. E isso, caros leitores, é o pior que nos pode acontecer. Ficarmos presos no mais ou menos. «Como é que estás?», « Estou mais ou menos.», «És feliz?», «Mais ou menos.», «Gostas da vida que levas?», «Mais ou menos.»
A vida não pode ser mais ou menos. A vida tem de ser mais do que menos. A vida tem de sair de dentro da pastinha amarela do computador para ganhar outras cores.
Se, no início, sabemos como começar? Claro que não. Ninguém sabe. Mas começa-se por qualquer lado, mesmo que isso implique que tenhamos de (re)começar mais de uma dúzia de vezes. Começa-se por aqui e por ali. Começa-se sem saber (a)onde vamos terminar, mas com a certeza de que retroceder não é opção. Começa-se a medo, com medo e segue-se atrás do medo até que o medo vira coragem.
Por onde comecei? Comecei, durante uma hora de almoço, no meu trabalho mediano, com um horário mediano, onde se padecia de um tédio mediano, quando cliquei na tecla enter e me inscrevi na plataforma digital de escrita criativa que dava a possibilidade a novos autores para publicar 4 textos mensais. A única certeza que eu tinha? Que as palavras escritas em Word, presas durante anos, numa pastinha amarela do computador, iam, pela primeira vez, ser mais fortes do que os meus medos.
E é dessa força que vos quero falar na Palavrar. Daquela que nos empurra para a frente, que não nos deixa desistir e que nos dá a certeza de que o melhor (ainda) está para vir.