Sobre

A provocação lançada por Diana Almeida, médica obstetra, amante dos livros e da escrita, que em tempos se dedicou a um blogue de crítica literária, não me foi indiferente.

Do repto à ação passaram poucas horas: perceber a parte burocrática, definir as rubricas, a periodicidade, colunistas convidados, revisão, paginação, imagem gráfica… Com tudo alinhavado, o projeto começou a tomar forma. Quatro ideias eram claras desde o início: criar um espaço para novas vozes literárias, em formato digital, de distribuição gratuita, onde os escritores com obra publicada também têm palco.

Decidir o título foi quase como escolher o nome de um filho: ato embutido de imensa responsabilidade. «Palavrar» surgiu espontaneamente. Só depois se descobriu o «gosto de palavrar» de Fernando Pessoa. Tudo fez ainda mais sentido.

Para o mote «Ler e escrever é resistir», inspirámo-nos nas palavras de Lídia Jorge, que afirmou certa vez: «A literatura é um ato de resistência absolutamente indispensável» e é preciso «publicar, ler e divulgar». Queremos, definitivamente, fazer parte dessa resistência.

Caracterizada pela diversidade de rubricas e assuntos (História da literatura, escrita criativa, escrita motivacional, revisão e edição de textos, crítica literária), a PALAVRAR — Ler e escrever é resistir partilhará crónicas, contos, histórias infantis, poesia de autores desconhecidos, a par de crónicas ou artigos de opinião de vozes conhecidas no panorama literário nacional. Incluirá ainda o questionário de Proust a um convidado especial por edição. Objetivo: possibilitar uma aprendizagem com quem vai na dianteira e dar voz a quem deseja gizar caminho. Será leve e próxima dos leitores, mas não superficial. Funcionará como plataforma de difusão de novas vozes literárias, alargando o pouco espaço atualmente existente em Portugal com esse propósito.

De periodicidade semestral e distribuição gratuita, a data do primeiro número foi definida: 1 de agosto de 2021, dia do nascimento de Herman Melville, um dos mais importantes romancistas da literatura norte-americana, contista, ensaísta e poeta, imortalizado com a obra-prima Moby Dick.

Com a PALAVRAR — Ler e escrever é resistir, pretendemos cultivar histórias e ver crescer novas vozes. Poderíamos recorrer à parábola do bom semeador para explicar a natureza simbólica entre a palavra e a semeadura, entre a semente e a letra, entre o vocábulo e a consequência do efeito mágico no leitor.

É neste lavrar a palavra, ou usar a palavra como o arado da mente, que nos situamos. O trabalho é árduo e muitas vezes inglório, outras vezes doce e frutuoso, conforme corra o tempo, a crítica, a geada, os apoios, a chuva, a visibilidade e impacto. Para tudo isto, estamos preparados, cientes dos perigos da monocultura, do desprezo pela alteridade e do pensamento em vista aérea. Queremos vários mundos em vez de um só.

Sem sentimento de urgência ou derradeiro ativismo, tal como Fernando Pessoa, também temos o «gosto de palavrar».

Saudações literárias,

Analita Alves dos Santos