Anjo caído

Um voo de satisfação fácil e imediata,

Dilata as sinapses, em caleidoscópio de sensações,

Intencionando o sol

De um êxtase ideal,

Que possa preencher o vazio.

Quase lhe cheguei,

Até o calor derreter a substância

Das asas

E cair quebrado no chão duro.

Na tentativa de mais uma vez

Talvez seja a última,

Talvez haja consolo

Para o despenhadeiro voraz,

Mas a vergonha do tombo

Vai cavando o buraco de onde me lanço

E nunca alcanço raio de sol

Como o primeiro.

A cada queda mais decaído,

Secando a carne e o meu redor

Para fazer novo par de asas.

 

Não há maior sacrilégio,

Para com Deus

E para comigo,

Do que na repetição dos pecados

Desmoronar este corpo de uso único

Em estragados bocados.

Não há maior perversidade

Do que destilar o potencial

Em éter venenoso

E corroer o tempo humanamente limitado

Com espiral autofágica,

Em vão.

 

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AUTOR(A)
Rúben Marques

Rúben Marques nasceu em Louriceira, Alcanena, no ano de 1994.

Até ao momento publicou dois livros de poesia, “Segredos Despertados” data de 2013 e “Quem Somos Quando Ninguém nos Vê?” em 2023.

Conta com várias participações em antologias e revistas poéticas.

Recentemente iniciou uma aventura na poesia blackout através das redes sociais e conta com exposições realizadas.

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