A História da Literatura portuguesa, enquanto matéria de estudos académicos, foi trilhando caminho, sobretudo a partir do último quartel do século XIX, contando-se com o que, convencionalmente, se debateu em atividades intelectuais relativamente às obras produzidas, ideias importadas e movimentos/correntes literárias que anunciavam as alterações sociais, políticas e culturais vigentes.
Entre outros textos, surgiram ensaios e estudos sobre a literatura portuguesa, o que foi, à época, um grande contributo para a valorização do património literário. Antero de Quental, Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Teófilo Braga foram considerados os precursores da História da Literatura. Posteriormente, Fidelino de Figueiredo foi um dos responsáveis da Moderna História da Literatura, valorizando os Estudos Estético-Literários em prejuízo dos filológicos. Jacinto do Prado Coelho, no século XX, deixou-nos uma obra monumental sobre a evolução da literatura em Portugal, desde as suas origens até à Literatura Contemporânea, o que muito contribuiu para alavancar investigações de onde pudessem advir outras noções e estudos. Assim, mesmo sendo uma das bases para os evolutivos e necessários estudos da Estética Literária, a Filologia foi posta de parte, e, já em meados do século XX, a Teoria da Literatura e a Receção Literária fincaram o pé, destacando-se o papel e a influência do leitor na construção do significado da obra literária. Lembremo-nos da «morte do autor», de Roland Barthes.
Abriria aqui um parêntese para referir que o rompimento com os ideais da historicidade, tão associada à filologia, se necessário e aceitável, foi, todavia, ambíguo, pois, a filologia, ao interpretar textos antigos e contemporâneos, mais do que ser um vasto repertório, é um valioso contributo de pesquisas e análises para a compreensão das diferentes formas de expressão literária. Note-se, e não será por acaso, que em universidades americanas já se estudam os benefícios de uma «Nova Filologia», no âmbito de um verdadeiro conhecimento da História da Literatura.
Ora, se os últimos 25 anos do século XIX foram os dominantes ao nível de alterações sociais, culturais e outras, dado que foi um período cuja intensa atividade literária destacou autores que exaltaram movimentos como o Realismo, o Simbolismo e a quem se devem os passos debutantes do Modernismo até à Literatura Contemporânea, não podemos pôr de parte o que se destacou antes. Em inícios do século XIX, por exemplo, o Romantismo já dava o que falar, com autores cuja versatilidade e influência deixaram um legado incontestável na nossa literatura. Justo será, pois, afirmar que a História da Literatura integra estudos e reflexões, mesmo se mais informais, de obras produzidas anteriormente, que também foram escritas e analisadas sob a batuta dos períodos que as viram nascer e/ou lhes conferiram legitimidade literária.
Se dúvidas houvesse bastaria elencarmos todos os períodos da Literatura, tendo sempre em atenção, evidentemente, que a sua linha diacrónica foi desenhada na complexidade das sobreposições e continuidades de estilos, influências, correntes, temas, o que, desde os primórdios da nossa nação à atualidade, a tornou tão rica e única.