… que faz um poeta entre destroços?
Inês Lourenço
…e essa miséria
colonizando nossos olhos
já tão mecânicos em seu longo jejum de belezas
Radar dos meus espantos,
eles contemplam fatigados
esse inventário de sombras
esse vórtice de desesperos
A realidade trazendo emoções espúrias
nessa indisciplina de ser animal entre homens
de querer ter alma entre destroços
de pertencer a outro tempo
Nesse despudor, o destino sem rosto
mas pleno de restos,
dispara suas flechas metafóricas
e arbitra uma noite mineral e oblíqua
sobre as não-vidas
pagando pedágio à alfândega de refugiados
A exclusão quotidiana,
máquina de torturas esmagando sonhos
assinala a precoce vertigem desse século
e me faz habitar a angústia,
essa pátria interior