Perguntaste-me o que é isso,
apontando para os joelhos esfolados.
Respondi-te caí. Caio muitas vezes, sabes?
Ainda te mostrei as palmas das mãos,
calejadas e arranhadas. Os cotovelos negros.
Toda eu um vaivém em cicatrizes,
feridas mais ou menos saradas
que o sol amanhece na pele sem protetor.
Sigo em frente, livre para atropelar
o sonho desse dia.
Não há brilho que desfaça,
deslace ou encandeie o coração,
mesmo que o transborde.
É esta mania de ler a solidão dos olhos
e levantar bandeiras sem descansar.
Leva-me pela ousadia do riso de uma criança.
(Já paraste para escutar a inocência desse riso?)
A verdade é que se compartimentasse os sonhos
teriam eles comando para se erguerem perante a vida?
Um dia um levanta o dedo, um espreita
noutro instante e, logo de seguida,
já está outro em bicos de pés.
Ainda que conte carneirinhos a atropelarem-se
nas noites que se encostam aos olhos,
as manhãs despertam vencedoras.
E, embora esteja agora na cozinha
de toalha enrolada aos cabelos e segure
uma caneca azul a dissipar-se em fumo,
o final do dia será só e tão somente
sobre o amor oferecido, de mãos estendidas.
A magia do estar sempre um passo acima do pé.