desperta a madrugada

Desperta a madrugada

Desperta a madrugada!

Alumia as ruas ainda adormecidas,

perfuma o ar com pão quente,

com café torrado, 

com o fumo das locomotivas.

 

Desperta a madrugada!

Quebra o silêncio da noite,

preenche-o com vozes várias,

zum-zum de quem trabalha

longas horas solitárias.

 

Desperta a madrugada!

Desperto eu também.

Percorro as ruas alumiadas

inalando-lhes os aromas

escutando-lhe as vozes apressadas.

 

Vozes do estudante

que segue para a escola.

Vozes do engravatado

que caminha para o escritório.

Vozes da empregada

que corre para a casa da senhora.

Vozes daquele, deste e daqueloutro

falando entre-dentes, 

nas suas tarefas, absorto.

 

Sigo eu assim igual:

Cabisbaixa, alheada,

com passo diligente,

pela avenida inundada

pelo mar da apressada gente.

Não paro nem me apercebo 

que neste meu caminhar dormente

sou mais uma entre os outros

que não vive, 

é sobrevivente!

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AUTOR(A)
Carla de Paula
Carla de Paula

Carla de Paula nasce no ano de 1979, em Portimão. Aos 18 anos troca a terra natal por Lamego,  onde, em 2001, se forma como professora do 1.ºCiclo do Ensino Básico. Leciona na pérola do Atlântico, na terra dos dinossauros, numa vila perto da capital portuguesa do chapéu e, por parcos meses, na invicta até chegar ao distrito e à cidade que escolhe por amor: a forte, farta, fria, fiel e formosa Guarda, onde reside há mais de 10 anos. Pelo caminho, apaixonada pela Língua Gestual e pelo ensino de Surdos desde adolescente, forma-se em Educação Especial, acompanhando crianças e jovens na área da Surdez e da Dislexia desde 2016.

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