Desperta a madrugada!
Alumia as ruas ainda adormecidas,
perfuma o ar com pão quente,
com café torrado,
com o fumo das locomotivas.
Desperta a madrugada!
Quebra o silêncio da noite,
preenche-o com vozes várias,
zum-zum de quem trabalha
longas horas solitárias.
Desperta a madrugada!
Desperto eu também.
Percorro as ruas alumiadas
inalando-lhes os aromas
escutando-lhe as vozes apressadas.
Vozes do estudante
que segue para a escola.
Vozes do engravatado
que caminha para o escritório.
Vozes da empregada
que corre para a casa da senhora.
Vozes daquele, deste e daqueloutro
falando entre-dentes,
nas suas tarefas, absorto.
Sigo eu assim igual:
Cabisbaixa, alheada,
com passo diligente,
pela avenida inundada
pelo mar da apressada gente.
Não paro nem me apercebo
que neste meu caminhar dormente
sou mais uma entre os outros
que não vive,
é sobrevivente!