Fosse como fosse, nada permitia
voltar ao ponto zero, ao começo dessa linha
cosida sobre o coágulo das horas
espessas e férreas como sangue.
mas exaltar-me não serviria para nada
senão para azular o lírio já de si azul
ou pendurar pérolas nos tendões das moscas
se tendões tivessem as moscas.
a inutilidade é afinal uma coisa preciosa
se colocada subtilmente
é preciso que seja subtilmente
sobre todas as mãos que se comprazem
em ordenar com mil cuidados as nervuras de séculos
e séculos, mesmo que a seguir se esgarcem e
soltem de tal maneira que as vemos
desentrelaçadas em fios muito finos
pobremente adejando nas nossas janelas.
de que fogem? perguntam maliciosas as Parcas soberanas
manobrando com dedicado zelo linhas e tesouras
famintas da nossa carne, coisas negras tecidas de gaze
como os destroços que aqui e ali vamos deixando.
belas, então, só as lágrimas…