É rica. Muito rica.

É rica. Muito rica.

Uma língua rica veste-se com as cores e adapta-se às terras onde escolheu, ou onde a levaram, a residir, como uma amiga que tem casas em Lisboa, Luanda, Rio de Janeiro, São Paulo e Florianópolis. Nunca a vejo com a mesma roupa, especialmente não na mesma época do ano! Tal como esta minha amiga, a língua portuguesa assume diferentes roupagens, refletindo a cultura, o clima e o espírito de cada lugar onde é falada. Essas diferentes “roupagens” mostram-nos como ela se transforma e se ajusta aos seus diversos lares ao redor do mundo. Ela pode fazê-lo. Afinal, é uma língua rica. Muito rica. Talvez a terceira, mas certamente não menos que a quinta, mais rica do mundo.

 

Comecemos!

/texto em português do Brasil/ (A)

O português do Brasil e o de Portugal são o mesmo idioma porque compartilham uma origem comum, uma estrutura gramatical básica, uma tradição literária, e continuam a ser mantidos unidos por meio de reformas ortográficas e intercâmbios culturais. As diferenças que existem são características normais de uma língua falada em regiões geograficamente separadas e refletem a rica diversidade dentro da língua portuguesa. Apesar das diferenças nas variantes faladas e escritas nos dois países, por várias razões históricas e culturais:

/texto em português de Portugal / (B)

O português do Brasil e o de Portugal são o mesmo idioma porque partilham uma origem comum, uma estrutura gramatical básica, uma tradição literária, e continuam a ser mantidos unidos através de reformas ortográficas e intercâmbios culturais. As diferenças que existem são características normais de uma língua falada em regiões geograficamente separadas e refletem a rica diversidade dentro da língua portuguesa. Apesar das diferenças nas variantes faladas e escritas nos dois países, estas têm explicações em várias razões históricas e culturais.

Ou seria o contrário? O B em PT/PT e o A em PT/BR?

Não conseguiu distinguir?

Nem eu.

O primeiro foi escrito por um português e o segundo por um brasileiro a partir de um texto originalmente em inglês.

Surge-nos então a questão: por que o português culto é tão parecido?

Razões:

  1. Origem Comum
  • O português se originou na região que hoje corresponde ao norte de Portugal e à Galiza, na Espanha, no século IX. Com o tempo, a língua evoluiu e se expandiu com a formação de Portugal como nação independente no século XII. A língua portuguesa foi levada ao Brasil com a colonização portuguesa a partir de 1500.
  1. Língua Oficial
  • Em ambos os países, o português é reconhecido como a língua oficial. Isso significa que, formalmente, o português ensinado nas escolas, utilizado nas leis, documentos oficiais e na mídia, é o mesmo, apesar de algumas variações regionais. As reformas ortográficas têm sido implementadas para aproximar ainda mais as normas de escrita, como o Acordo Ortográfico de 1990, que buscou unificar as diferenças entre as variantes.
  1. Estrutura Gramatical Comum
  • A estrutura gramatical básica do português é a mesma em ambos os países. Embora haja diferenças na pronúncia, vocabulário e certas construções gramaticais, as regras fundamentais da língua, como a conjugação verbal, a sintaxe, e o uso de tempos verbais, são compartilhadas.
  1. Herdeiros da Mesma Tradição Literária
  • Tanto Portugal quanto o Brasil compartilham uma tradição literária comum, com escritores, poetas e intelectuais que, ao longo dos séculos, contribuíram para o desenvolvimento do idioma. Obras literárias de autores dos dois países são lidas e estudadas em ambos, ajudando a manter um vínculo cultural e linguístico.
  1. Intercâmbio Cultural e Mídia
  • O intercâmbio cultural contínuo entre Brasil e Portugal, seja por meio de imigração, mídia, ou relações comerciais, mantém as variantes do português em contato. Filmes, música, literatura e outros produtos culturais circulam entre os dois países, permitindo uma influência mútua e a manutenção de uma base comum na língua.

Ah! Mas…

Sim, há as diferenças regionais.

Embora seja o mesmo idioma, o português do Brasil e o de Portugal apresentam diferenças em termos de pronúncia, vocabulário e expressões idiomáticas. Por exemplo, certas palavras usadas no Brasil têm significados diferentes em Portugal, e vice-versa. Além disso, o sotaque e a entoação variam significativamente entre as duas variantes. Como linguista, estou plenamente consciente das particularidades de cada variante, mas hoje não me vou aprofundar numa análise técnica. Em vez disso, quero partilhar a minha experiência pessoal sobre como essas diferenças podem ser superadas, as vantagens de o fazer, e por que, muitas vezes, adaptar o texto para uma ou outra variante pode ser um exercício desnecessário, dependendo do público e do propósito da escrita.

Lembro-me de uma vez em que mencionei que estava à procura de uma “vaga” de estacionamento, e fui corrigido para usar “lugar”. Estas pequenas variações podem parecer insignificantes, mas, num contexto de comunicação, podem gerar confusões e mal-entendidos.

Apesar das diferenças, aprendi rapidamente que a chave para superar essas barreiras não está em tentar forçar uma adaptação total à variante local, mas sim em compreender o contexto e o público para quem estou a escrever ou a falar. Se estou em Portugal, ajusto naturalmente o meu vocabulário em conversas informais, mas, ao escrever para um público amplo que inclui brasileiros e portugueses, percebo que a melhor abordagem é me focar numa linguagem clara e universal, que transcenda as peculiaridades regionais.

Superar as diferenças entre as variantes do português oferece uma série de vantagens. Em primeiro lugar, amplia a nossa capacidade de comunicação e conexão. Quando conseguimos expressar-nos de forma que tanto brasileiros como portugueses entendam, criamos uma ponte cultural que enriquece a troca de ideias e experiências e, sobretudo, abre-nos portas.

Além disso, essa habilidade de transitar entre as variantes do português é um diferencial competitivo em diversas áreas, especialmente em negócios internacionais, educação e media. Ser capaz de adaptar, ou melhor, de unificar a comunicação, demonstra flexibilidade e respeito pelas nuances culturais, o que pode ser um fator decisivo em negociações e colaborações internacionais. Mais do que isso, superar essas diferenças linguísticas permitiu-me expandir a minha visão do mundo. O contacto com expressões, gírias e formas de falar diferentes fez-me valorizar ainda mais a riqueza da língua portuguesa e deu-me uma nova perspetiva sobre a importância da diversidade cultural. Ao longo dos anos, aprendi, sem medo ou preconceito, a ser flexível nas minhas escolhas de palavras e expressões dentro da MINHA LÍNGUA, dependendo do público e do contexto, esclarecendo uma palavra ou expressão específica, ou simplesmente escolhendo sinónimos que sejam amplamente compreendidos em ambas as variantes. Simples assim.

Um bom exemplo, pois ali vejo o futuro da língua, é a Geração TikTok, que já demonstra uma abordagem inovadora e prática em relação à língua, especialmente no campo da comunicação. Para eles, a língua é vista como um elemento vivo e dinâmico, que precisa de ser usada de forma imediata e eficiente para atingir um propósito comum. Em vez de se prenderem às formalidades ou às discussões sobre a “pureza” da língua, essa geração prioriza a funcionalidade e a adaptação às necessidades do momento.

Para esta geração, a língua voltou a ser percebida com sempre deveria ter sido. Para eles, a língua serve para conectar pessoas e criar comunidades em torno de interesses e propósitos comuns. Se há um objetivo claro – seja entreter, informar, educar ou mobilizar –, a forma como a língua é utilizada ajusta-se a esse propósito. Estão menos preocupados em seguir regras fixas e mais interessados em como podem usar a língua para atingir resultados tangíveis. A comunicação torna-se um processo colaborativo, onde a língua é moldada e remoldada conforme necessário, para servir o propósito comum de forma mais eficaz.

Enfim, a língua não é um monumento imutável, mas um instrumento vivo que deve ser utilizado de acordo com as necessidades e os objetivos do presente. Esta abordagem pragmática desafia as visões tradicionais e coloca a funcionalidade e a eficácia no centro da comunicação. Ao entender a língua como algo que precisa de ser moldado para atingir um propósito comum, esta geração redefine a forma como nos comunicamos, tornando a língua mais acessível, adaptável e, acima de tudo, útil para o agora.

De que país lê este meu artigo?
Em que «língua» escrevo este artigo?
Esta é a «minha» língua portuguesa. Como tem desenvolvido e aprimorado a «sua»?

 

James McSill / Instagram: @jamesmcsill

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AUTOR(A)
James McSill
James McSill

James McSill é um escocês multilíngue (fala português, CEO do McSill Story Studio, com sedes na Inglaterra, Escócia e Portugal. Atua em todos os continentes em parceria com o D.I.T — Departamento de Negócios Internacionais da Inglaterra. Com mais de trinta livros publicados, James McSill é o único consultor de histórias a estar presente em todos os continentes, fala diretamente a mais de vinte mil pessoas ao ano, ajudando dezenas de profissionais a lançarem livros ou a avançar as suas carreiras e a empresas contar histórias que incentivam a venda de produtos e serviços. Por meio das suas criações e consultorias no campo do entretenimento (TV, Teatro e Cinema), a sua voz chega a atingir mais de cem milhões de pessoas ao redor do mundo, muitas vezes, em um único mês.

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