Vejo a vida como uma página em branco à espera de ser escrita e reescrita as vezes que forem necessárias até que o texto faça sentido.
Descubro no ato de escrever paralelos admiráveis com a forma de a construir.
Escrever nem sempre é sinónimo de fluidez. Do mesmo modo, na vida, há momentos em que as coisas não correm à nossa feição, também ela se represa aqui ou ali, deixando-nos perdidos, cansados de tentar, com vontade de desistir. Somos humanos, é natural que assim seja. Mas somos mais do que aquilo que pensamos e temos capacidades, tantas vezes ocultadas e até rejeitadas, para fazer brotar o que mais desejamos, sejam as nossas palavras, seja a nossa vida.
Escrever é sinónimo de errar e corrigir. Pode acontecer que não se escolham os melhores termos, que as frases não transmitam exatamente o que se pretende, que os pontos e as vírgulas se percam nos caminhos e nem sempre orientem de forma correta o trânsito no texto. Só um olhar desapegado poderá detetar e corrigir, porque, tal como na vida, quando escrevemos, precisamos de nos afastar para conseguirmos ver o que pode ser alterado e, com humildade e confiança, melhorarmos o menos bom. O erro pode ser uma excelente oportunidade de aprender.
Escrever é sinónimo de criar. Somos seres únicos, por isso, a voz de cada um é exclusiva e sem-par, podendo manifestar-se de variadíssimas maneiras, através da escrita ou de um qualquer outro meio. Todos somos capazes de criar e dar expressão a essa voz que trazemos dentro de nós, talvez ignorada e amordaçada… Quem nunca sentiu vontade de exprimir sentimentos, ideias e emoções através de um texto, de uma pintura ou até de uma sobremesa? Quem nunca desejou fazer algo diferente, sentir a vida a pulsar e aproveitá-la em cada segundo que passa? Quem nunca sofreu de criatividade presa nos meandros da imaginação, ansiosa por sair em liberdade, mas que, por algum motivo, não conseguia encontrar a forma de se soltar? Confiar na essência que somos, longe de ser um ato egoísta, é um sublime gesto de altruísmo, pois tudo o que fazemos por ela orientados é irrepetível e traz a nossa marca que precisamos de reconhecer e registar.
Há alguns dias, encontrei, não por acaso, um conjunto de bonitas canetas que me foram oferecidas há uns anos. Nunca as utilizei. Quis dar-lhes uso, mas a tinta havia secado… Este simples facto fez-me refletir no tempo que passei sem perceber o quão importante é para mim escrever. Agora, foco-me por inteiro na escrita, expresso a minha voz para tornar melhor o mundo de quem precisa de ler exatamente aquilo que tenho para lhe dizer.
Há palavras a pedir para serem escritas e leitores à espera de as descobrir.
Escreve-as, antes que a tinta seque.