Escolhi fazer assim, mas os despojos ficaram.
Preferia não ter dito, mas escolhi dizer.
Escolhi que não acabasse,
quando até desejava recomeçar.
Em que futuros nos cabem os sorrisos?
Que parte de matéria nos retorna às mãos?
Mostramos o nosso melhor,
mas escondemos partículas
e, se somos feitos de átomos
que juntos não fazem um todo,
em que vazio encaixamos nós?
Porque às vezes
escolho ser pão ázimo,
outras prefiro ficar assente na terra,
ser raiz, quase vento,
num raio de transparência.
Prefiro o chão e a imperfeição,
a asa quebrada, o corpo despido,
o não saber o que ser
em vez de ter a altura nos bicos dos pés,
na fome de aparecer primeiro.
Prefiro ser sede, mesmo sem saber como a matar.
E se um dia me julgarem à beira da água,
que depois me reconheçam na madrugada,
com a certeza de que o mundo, às vezes,
muitas vezes,
se esquece de parar
apenas para
r e s p i r a r.