Autor(a):

Raquel Silva

Matei o monstro da misantropia

Matei o monstro da misantropia
E a minha vida parou na letra M

Eu já fui um livro da Raquel Freire
Mas nos entre tantos a vida queimou-me

Se quiseres escrever,
Salta para dentro de um poço em tons de cinzento
Pode ser um poço igual ao da Branca de Neve
Igual ao do The Ring.
Se for daqueles avant-garde, new wave, retro vintage
Podes escolher um a preto e branco

Para escreveres tens de estar no meio,
Como um adolescente no limbo da vida
Tens de estar a olhar para o branco
Tens de estar preparado para o branco
Para os anos de branco que se formam à tua frente

Nem a luz segue o olhar
Os anos de mãos trémulas que penteiam riscos contínuos,
Languidamente, perseguidos por ti

Se queres escrever tens de perceber o preto
Tens de te entregar ao preto
Tens de perceber que o preto não é a salvação
A tinta escorre pelas tuas costas de velcro
Mas eu… já não sou a outra face
Já não sou o outro ponteiro do relógio
Sempre abominei cada segundo
E escrever é um poço sem fundo

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AUTOR(A)
Raquel Silva

Raquel T. Silva aka Raquel Smith Cave (Funchal 1988). Poeta, artivista queer feminista e uma apaixonada por todas as artes. Licenciada em Literatura Inglesa pela Nova, neste momento é trabalhadora a recibos verdes, foi criadora e editora da fanzine colaborativa CuntRoll (2011-2018) e em 2019 publicou de forma independente a zine Sou Uma Ilha / I Am An Island, coleção de poemas e textos escritos por si desde 2006.

 

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