Matei o monstro da misantropia
E a minha vida parou na letra M
Eu já fui um livro da Raquel Freire
Mas nos entre tantos a vida queimou-me
Se quiseres escrever,
Salta para dentro de um poço em tons de cinzento
Pode ser um poço igual ao da Branca de Neve
Igual ao do The Ring.
Se for daqueles avant-garde, new wave, retro vintage
Podes escolher um a preto e branco
Para escreveres tens de estar no meio,
Como um adolescente no limbo da vida
Tens de estar a olhar para o branco
Tens de estar preparado para o branco
Para os anos de branco que se formam à tua frente
Nem a luz segue o olhar
Os anos de mãos trémulas que penteiam riscos contínuos,
Languidamente, perseguidos por ti
Se queres escrever tens de perceber o preto
Tens de te entregar ao preto
Tens de perceber que o preto não é a salvação
A tinta escorre pelas tuas costas de velcro
Mas eu… já não sou a outra face
Já não sou o outro ponteiro do relógio
Sempre abominei cada segundo
E escrever é um poço sem fundo