Pudera eu contar com a réstia azul, branco, framboesa
do teu vestido marinho,
quando te vi nesse ano que não recordo,
pois a sombra do teu ígneo corcel tudo encerrou.
Numa época em que mais não eras
que um marginal horizonte,
aquela vasta terra
que tudo engolia
transportou-nos
para o centro das ondas
de um Outubro tardio.
Um pequeno barco de vela latina navegava, a contragosto,
à volta de um pedaço de terra esquecida,
batido pelas marés agrestes
que nem nos importunavam
a nós escondidos, fechados, açambarcados.
Sentados num banco de pau
como num cavalo de feira,
esperávamos que o anjo trouxesse as novidades
para nos encaminharmos para a areia
tão fina e suave que lembrava um domingo de Julho.
Num meio-dia quente e abençoado,
abriram-se os portões do céu
aos desterrados de outros mundos
que alinhavam em jogos de sala
e sedução.
No futuro
saco do bolso uma moeda
e sigo para uma manhã de Abril.
De súbito, constato que ainda há a gente no mundo.
Visto-me e alinho em mais um desespero sonhado.
Pela manhã, num erguer desassossegado,
lembro-me de ti e de todos.
Arrumo-vos
num bolso escondido
e parto de novo
para os ventos da Hélade
por trilhos adiados…