Todos os dias chegam notícias extraordinárias do Brasil.
Zumbi e Nganga Zumba, guerreiros angolanos
que ajudaram a criar essa nação,
continuam a ser mortos todos os dias, física e simbolicamente.
De facto e de jure.
A nossa irmãzinha Kathlen Romeu,
radiante e luminosa como uma estrela nascente
brilhando em todos os céus do mundo,
foi morta com tiros alegadamente equivocados,
mas certeiros,
pelo simples facto de existir e ser feliz.
Carregava dentro dela, amorosamente,
um outro ser,
forte, belo e promissor,
destinado a realizar prodígios desconhecidos,
mas os seus carrascos, taciturnos como pedras sem alma,
julgaram isso uma agravante…
O jovem Thiago da Conceição,
que tinha apenas 16 anos e, portanto,
acreditava na inexorabilidade do tempo,
foi surpreendido entre o quarto e a sala
da casa onde morava esquecido por todos os poderes,
menos o de matá-lo:
um tiro preciso, apenas um tiro,
absolutamente previsível
como o ódio dos senhores da Casa Grande,
impediu-o, talvez felizmente,
de descobrir que o mundo não tem lugar
para jovens como ele.
Matheus Ribeiro tinha algo que não lhe podia pertencer e,
além disso,
estava no lugar errado. O anátema
tinha,
pois,
toda a razão de ser.
Como se atreveu ele a protestar?
É preciso investigar…
No dia em que o país atingiu a marca de 500 mil mortos,
o Grande Mito rasgou a máscara
e sorriu como uma hiena.
A sua corte de generais,
bispos, empresários,
milicianos e robôs
conspira ardentemente contra o futuro.
Amanhã qual será a notícia?
Agora o poema descansará.
Aguardarei em silêncio o anúncio dos tambores…