Autor(a):

Maria Gaio

O estádio do guerreiro

Todos passamos por situações menos boas na nossa vida. A revolta, a amargura, os “porquê eu” podem tomar conta de nós e atrasar a recuperação. No entanto, estes momentos são preciosas oportunidades para deixarmos o nosso “guerreiro interior” manifestar-se. Ao converter os sentimentos dolorosos em resignação e assentimento, iniciamos um caminho de esperança que nos abrirá as portas para novas oportunidades.

Impõe-se a reflexão: “e agora?”. O que passou ficou lá atrás, agora é tempo de repensar o que nos trouxe até aqui e percebermos como nos transformou para podermos usar as ferramentas que a nova condição nos traz. Sim, usá-las, porque, como acontece em tudo o resto na vida, devemos agir e trabalhar na direção do que queremos.

Se pensas que a resignação é algo vazio de sentido, enganas-te. Esta é o grande ponto de partida para vivermos dignamente, com alegria e em paz neste nosso novo estado. É na aceitação que o nosso guerreiro aparece com as suas armas. Deixa-o entrar e agarra-te a ele para que te ajude na caminhada. Pode ser em forma de oração, em sonhos, em desabafos, meditando, escrevendo, lendo, não importa como, o que interessa é respirar fundo, erguer a cabeça e avançar.

Convence-te de que a palavra faz o ato e a criatividade também é uma forma de trocar as voltas à anunciada morte do teu sonho, do teu corpo ou da tua mente.

És um guerreiro ─ dir-te-ão. Eu, guerreiro! Como? Não. Apenas aceitei e me abri a novas perspetivas de vida. Sim, porque aceitei o que me acontecia, para a partir daí repensar objetivos e fazer escolhas, reformular o meu caminho. Chamei a mim forças desconhecidas que até então, nunca me tinham sido apresentadas:  a razão, mas também o coração e o sonho de viver.

Não é só nas grandes provações que devemos pensar assim, no dia a dia isto traz-nos um grau de tolerância que beneficia a todos quantos nos rodeiam.  Aceitação e resignação são formas de promover o bem-estar, o teu e o do outro.

 Tal sentir também nos conduz à compaixão, tão necessária no tempo atual.

Não confundir este sentimento com inércia, pois esta não nos leva a lugar algum, nem nos desperta o sonho e a ação. A entrega sim, faz-nos pensar e agir. É uma paragem produtiva, que nos faz recomeçar, abre novos horizontes, através do criar algo ou seguir o exemplo de alguém. Este sentimento normalmente não é aceite, porque tem por detrás de si conotação com “conformar-se” quando, na verdade, é essencial na hora da queda, escolher se nos levantamos ou deixamos que nos derrube. O nosso guerreiro, ajudar-nos-á no caminho da superação e do sonho. Usemo-lo para nos erguermos daquilo que nos derrubou através da aceitação, resignação e compaixão, por nós e pelo outro.

            Em cada dia preparamos um amanhã melhor!

 

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AUTOR(A)
Maria Gaio

Maria Gaio, é natural de Leiria de onde emigrou com os pais para França, onde cresceu. Licenciou-se em Filosofia, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, cidade onde reside atualmente.

Muito curiosa em relação às letras, foi escrevendo e guardando, tendo publicado o seu primeiro livro em 2019, intitulado: “Sob o ponto de Mira”, um livro de contos cujo tema é o soldado português em diversos contextos de guerra; O livro “O Capa, o V Dobrado e o I Grego”  e o “Planeta das Letras”, ambos publicados em 2022, dirigidos a um público infantojuvenil.

É membro dos Clube de leitura “Encontros Literários, o prazer da escrita”, bem como do Clube dos Writers; Publicou uma crónica no Público, intitulada “Podia ser pior”, participou com dois micro contos na  Fábrica do terror, intitulado, um “A Larva” e o outro “O dia dos mortos.

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