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Margarida Constantino

O meu lado não é o vosso lado

Os desafios e conquistas por que passamos são matéria e produto para essas preferências. A busca pelo lado certo é incessante, mas quando chegamos à maturidade e olhamos para trás, percebemos o quão absurda é essa procura.

Descobrimos que a vida não é um cliché, é uma estrada labiríntica, cheia de curvas e de reentrâncias para explorar. Cada escolha exerce um efeito diferente no percurso, até mesmo quando optamos por não fazer nada.

Nem sempre temos a consciência de que estar de acordo com a nossa essência nos conduz ao bem-estar. A felicidade provém da aceitação do que é imperfeito, das fraquezas, das contingências e da singularidade; a nossa, a dos que nos rodeiam, dos objetos e das situações.

Somos energia, a mesma que têm o cosmos, a natureza e os objetos. Somos energia materializada. Se comparamos a energia à água, vemos que a podemos elevar ao estado gasoso e baixar ao estado sólido. O mesmo se passa com os objetos e os seres. Não somos mais do que um grão de poeira no cosmos.

A importância que temos é apenas aquela que lhe atribuímos; somos todos diferentes formas provenientes da mesma fonte. Haverá, então, um lado certo? Por que alguém se pode considerar mais certo do que o outro? Por acaso, nasceu nas mesmas condições? Nasceu com a mesma personalidade?

Um homem alcoólico e violento tinha dois filhos: um tornou-se drogado, vivia de roubos para alimentar o seu vício, o outro teve um percurso brilhante, formou-se novo e era um médico de sucesso. Na cadeia perguntaram ao primeiro por que abraçara aquela forma de viver. Ele respondeu: — Com o pai que tive, não tinha outra alternativa. Fizeram a mesma pergunta ao segundo irmão. Este respondeu: — Com o pai que tive, não tinha outra alternativa.

 Vamos todos desaparecer e, depois disso, o que interessa termos vivido num lado considerado o certo, se não aproveitamos a vida em pleno? Se não rimos alto, não nos embebedámos um dia, não gritámos numa praia deserta, não apreciámos a beleza das folhas no outono, nem o aconchego de um chocolate quente no inverno?

O lado certo deve ser um estado de espírito, alcançar as metas por nós traçadas, encontrar a alegria das pequenas vitórias, alimentar relações autênticas e abraçar os desafios como oportunidades de crescimento.

Viver no lado certo é rejeitar os padrões preestabelecidos e traçar a própria definição de felicidade, com as imperfeições, os erros, os maus cheiros, os sons agudos, as rugosidades, os calos, as verrugas, as parvoíces. Não existem unicórnios e a Barbie é fabricada.

O lado certo é aquele em que estamos de acordo com a nossa essência e os nossos valores. Não importa quem está ao teu lado, como aqui chegaste, ou o teu passado. O ontem já foi, o amanhã é incerto. O dia é hoje.

 

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Margarida Constantino

Margarida Constantino nasceu em Torres-Vedras em 1961. Com formação académica em Direito é licenciada em Ciências Sociais e em Política Social. Viveu em várias cidades e vilas do centro de Portugal, em Angola (Moçâmedes e Luanda) e em Inglaterra (Cheltenham), atualmente reside em Montargil.

Exerceu diversas profissões, foi ourives, assistente social, cuidadora de idosos, consultora, formadora. Estuda Astrologia desde 2008, é Mestre de Reiki, dedica parte do seu tempo ao Desenvolvimento Pessoal. Desde sempre amante das artes e da escrita, ganhou um Prémio de Poesia 1972, em Angola. Manteve um Blog entre 2008 e 2011.

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