O poder da (Im)perfeição!

Abro o Instagram e (já) não sei se tudo o que vejo me parece maravilhoso ou demasiado superficial. Resvalo os olhos pelo Facebook e fico com a mesma sensação. Adensa-se um sabor agridoce na boca que me deixa desconfortável.

O problema da perfeição (dos outros) é que, à partida, faz de nós seres cada vez mais imperfeitos.

Vivemos numa sociedade em que quase todos são «obrigados» a exaltar a perfeição e a esconder as suas falhas. E não, isto não acontece só agora que fazemos das redes sociais uma extensão da nossa vida pessoal. Isto acontece desde sempre. Basta pensar na panóplia de expressões da nossa infância que ficaram eternizadas na nossa mente: «Se não comeres tudo, és um menino feio»; «os meninos com a tua idade já não usam chucha»; «Que vergonha, a chorar». Fomos habituados a reprimir as nossas emoções e a esconder a nossa vulnerabilidade. Fizeram-nos acreditar que nunca seríamos suficientes, que seríamos menos capazes se nos expressássemos livremente, que seríamos fracos se não fossemos sempre fortes.

E o que é que fizemos?

Cumprimos escrupulosamente o que nos foi pedido e dito. Crescemos a querer ser perfeitos e validamo-nos imitando a perfeição dos outros. O problema é que nem nós somos perfeitos (e se tentamos sê-lo!), nem os outros o são, mesmo que continuemos a acreditar que sim.

Permitam-me deixar, desde já, uma coisa clara: as vidas perfeitas dos outros, que tantas vezes vemos publicadas nas redes sociais, não são mais do que um amontoado de filtros e ângulos escolhidos ao pormenor para compensar. Servem para compensar o vazio que, muitas vezes, ocorre do outro lado do ecrã. Pessoas que se autovalidam em conformidade com o número de «gostos» que têm. Pessoas que precisam que os outros as achem perfeitas, para que elas continuem a esconder as suas próprias imperfeições.

E é isso que vem baralhar tudo!

O que é que nós, os que não conseguimos ser perfeitos, pensamos? «Se eu não consigo ser assim; se não sou capaz ter a mesma força, se não posso ir aos lugares da moda; se nem sempre sorrio; se não tenho dinheiro para viajar tanto, e se estas pessoas todas conseguem e parecem sempre felizes, então o erro é MESMO meu!»

E é aqui que, muitas vezes, se inicia o caminho para a depressão e para uma espiral sem fim.

Acredito que todos nós andamos a esquecer é que o que nos torna seres únicos e especiais, o que nos agrega valor, é a nossa própria vulnerabilidade.

Quantas vezes, achámos que não conseguiríamos e fomos encontrar força onde nem esperávamos, ou vimos o fim e, mais tarde, concluímos que isso foi o melhor que nos podia ter acontecido? Quantas vezes já repetimos: «Foi difícil, mas conseguimos»?

Lembrem-se: uma coisa é querer ser melhor do que ontem, outra, bem diferente é querer ser melhor que os outros ou igual a eles. Não precisamos de mostrar tudo da nossa vida, até porque, como um dia escrevi: «O que Deus não sabe, o diabo não cobiça».

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AUTOR(A)
Júlia Domingues

Júlia Domingues, nasceu em 1977, Lisboa, Portugal. É a autora da página de facebook, Só que não, que conta, no somatório das redes sociais, com uma comunidade de perto de 1 milhão de seguidores.

Em 2020, publica o primeiro livro, Acredita, a vida sabe o que faz, e em Dezembro do mesmo ano publica o segundo livro, Acredita, o melhor está para vir (o calendário de Advento).

Em 2020 conclui a Certificação Internacional em Storytelling, pela Mcsill Story Studio, e em 2021 e torna-se sua parceira internacional. É facilitadora de cursos, palestras e workshops na área da escrita motivacional e de desenvolvimento pessoal.

Recentemente, publicou o terceiro livro Com o amor dos outros, posso eu bem.

O segredo da sua escrita? Júlia Domingues não escreve para os leitores, ela fala com eles.

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