Talvez hoje seja a primeira vez que lê a palavra “Biblioterapia”. Se assim for, consigo imaginar a sua surpresa. Eu mesma fiquei espantada no dia em que me deparei com o termo pela primeira vez, corria o ano de 2013, quando saiu no Reino Unido a primeira edição do livro “The Novel Cure”, de Susan Elderkin e Ella Berthoud.[1]
Foi por aqueles dias que comecei a alimentar o desejo de vir a ser biblioterapeuta. O projecto concretizou-se em Maio de 2016 e desde então, quase todos os dias, explico a alguém o que é a Biblioterapia e o que faz um especialista nesta área. É o que lhe proponho fazer também nesta primeira crónica para, nas seguintes, passar às sugestões de leitura na óptica deste método tão surpreendente quanto evidente.
Naturalmente, não foi só em 2013 que tomei consciência dos poderes terapêuticos da leitura. Qualquer pessoa que leia frequentemente, de forma extensiva, tem a noção do quanto ler lhe faz bem, procurando espontaneamente textos que vão ao encontro das suas necessidades intelectuais, emocionais ou espirituais. Naquele dia, o que se revelou totalmente novo para mim foi: 1) descobrir a palavra que englobava tudo aquilo que eu já intuía sobre os efeitos da leitura; 2) perceber que o tema era estudado cientificamente pelo menos desde a década de cinquenta do século XX; 3) encontrar centenas de artigos científicos que evidenciam a eficácia da Biblioterapia; 4) descobrir que havia profissionais de Biblioterapia.
No dicionário online de língua portuguesa da Porto Editora, a Biblioterapia é definida como o “tratamento de doenças através da leitura de livros”[2], uma aceção que faz apenas jus à vertente clínica da Biblioterapia (onde estão, aliás, as suas origens mais remotas). Sendo esta uma definição incompleta e redutora, a fórmula a que mais recorro — por ser igualmente sucinta e inteligível, porém muito mais abrangente —, surge num artigo[3] de Dale-Elizabeth Pehrsson e Paula McMillen, que definem a Biblioterapia como o “facilitar do desenvolvimento pessoal e da resolução de problemas através dos livros”. É claro que os problemas podem ser também de ordem médica, mas esta definição contempla já a Biblioterapia de Desenvolvimento Pessoal, que ganhou pujança a partir dos anos sessenta do século XX e que levou o método muito para além do contexto hospitalar, nomeadamente para o dia-a-dia de qualquer pessoa em princípio saudável.
No artigo “Biblioterapia: o estado da questão”[4], Ana Cristina Abreu, Maria Ángeles Zulueta e Anabela Henriques explicam que a Biblioterapia é: uma actividade da qual se pode beneficiar em qualquer idade (até crianças ou adultos que não saibam ler); pode ser praticada individualmente ou em grupo; revela eficácia quando os problemas já se declararam, mas também pode ser aplicada de forma preventiva; e permite o recurso a textos de todos os géneros (de ficção ou não).