O que eu (não) quero. A liberdade de dizer não.

Há dias, em jeito de balanço, em conversa com uma amiga, fazíamos uma breve retrospetiva à cerca do estado das nossas vidas. Sim, é isso que as (melhores) amigas fazem, falam de tudo em geral e de nada em particular. Nesse dia, indagávamos à cerca do ponto em que nos encontrávamos, os desafios que já havíamos superado para chegar até aqui e do que precisaríamos de reajustar para levarmos a bom porto o que ainda almejamos alcançar. Curiosamente, a primeira conclusão a que chegámos foi que o que nos trama, na maior parte das vezes, são as expectativas que criamos sobre coisas e pessoas.

Desde muito cedo, que nos habituámos (ou que nos habituaram) a saber sem hesitações o que queremos para a nossa vida. Aos seis anos inundam-nos com perguntas sobre o que vamos ser quando formos grandes; aos doze responsabilizam-nos por já sermos uns homenzinhos e umas mulherzinhas; aos vinte e três quase nos obrigam a distribuir dezenas de currículos sobre as nossas valências e Skills — que muitas vezes nem sabemos quais são — e aos trinta, se ainda não estivermos de casamento marcado, adquirimos o rótulo de «encalhados».

Fomos formatados para saber o que queremos, quando, na verdade, com o decorrer do tempo, constatamos que, mais importante do que saber o que almejamos para a vida, é ter a certeza do que (e de quem) não queremos que faça parte dela. Não devemos permanecer com o que (e quem) nos traz sofrimento, com o que não nos acrescenta. Antes, devemos deixar para trás quem nos trata como uma opção e não como prioridade. Tudo isto não pode continuar a decidir a forma como vamos ser (in)felizes.

Não pretendo com isto dizer que tenhamos de andar de mão dada com os «nãos da vida», até porque, diz-nos a neurociência, um dos problemas mais comuns que enfrentamos é concentrarmo-nos nos desejos e ambições de forma negativa, em vez de forma positiva. Ouvimos constantemente afirmações como: “Não quero ser gordo”, “não quero ser pobre”, “não quero ser infeliz”, não quero ser isto, não quero ser aquilo, não, não, não! Mas, sem dúvida, o que devemos fazer é dar ordens ao nosso subconsciente – é ele que cria as condições para que os nossos pensamentos se concretizem – baseando-nos em conceitos positivos: “Eu sou saudável”, “Eu tenho prosperidade financeira”, “Eu sou feliz”, eu sou e não o que eu ainda não sou (mas queria muito ser).

Quando falo nesta liberdade de aprender a dizer não, nesta convicção que brota cá de dentro de não termos de aceitar tudo e todos na nossa vida, de saber que o que muitas vezes aceitamos nem sempre é igual ao que merecemos, é com a certeza de que, depois de tudo o que já vivemos, chegou a hora de deixar entrar (e ficar) apenas o que merecemos. Encontra o poder dentro de ti e toma decisões alinhadas com os teus valores e objetivos. Deixemos de lado as expectativas impostas e criemos um caminho cheio de esperança e autoconfiança.

Quem vive para agradar os outros, nunca chega a agradar a si mesmo.

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AUTOR(A)
Júlia Domingues

Júlia Domingues, nasceu em 1977, Lisboa, Portugal. É a autora da página de facebook, Só que não, que conta, no somatório das redes sociais, com uma comunidade de perto de 1 milhão de seguidores.

Em 2020, publica o primeiro livro, Acredita, a vida sabe o que faz, e em Dezembro do mesmo ano publica o segundo livro, Acredita, o melhor está para vir (o calendário de Advento).

Em 2020 conclui a Certificação Internacional em Storytelling, pela Mcsill Story Studio, e em 2021 e torna-se sua parceira internacional. É facilitadora de cursos, palestras e workshops na área da escrita motivacional e de desenvolvimento pessoal.

Recentemente, publicou o terceiro livro Com o amor dos outros, posso eu bem.

O segredo da sua escrita? Júlia Domingues não escreve para os leitores, ela fala com eles.

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