O vazio

Semeias esperança nos olhos.

Não sabes se colherás frutos

ou até se o caule brotará da terra.

Persistes,

onde tudo o que sobra

é pequeno e rodeado de muros,

como se a luz fosse escassa

e o lado que os trespassa

revela fronteiras incertas,

desenhadas a régua e a esquadro.

E mesmo que escutes o ruído

das vozes que te tentam abafar,

anotas: a solidão que as enlaça

não permite espaço para o erro,

não suspende tempo para o sonho.

E se caír

e

s no asfalto

onde a sombra se entrelaça

tu, que em nada te reconheces,

levas em contramão

a mão levantada

como água a resvalar a faísca

entretanto enraizada.

E desalinhas as palavras cruas

na dança certa da verdade.

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AUTOR(A)
Margarida Correia
Margarida Correia

Margarida Correia é natural de Lisboa. É Mãe, licenciada em Gestão e informática de profissão.

Viciada no poder da palavra escrita, a folha branca e o carvão são a extensão da mão desde a adolescência. Escreveu em pregões da Blitz, quando era um jornal. Arriscou no DN Jovem. Rabiscou em blogs, murais e fóruns de escrita. Apaixonada pela poesia, é nela que encontra o equilíbrio, possuindo mais de trezentas páginas, guardadas por aí.

Durante a pandemia, sentiu curiosidade em aprender mais sobre o ofício da escrita, tendo frequentado uma «Oficina de Poesia», com o escritor José Luís Peixoto, os programas «Escrita em Ação» e «Livro em Ação», dinamizados por Analita Alves dos Santos e o curso «Escrita de narrativa original do princípio ao fim», do escritor Afonso Cruz.

Tem poemas publicados em algumas coletâneas de poesia e em revistas digitais. Participa ainda com o conto «Contramão» na coletânea de contos «Que o caminho não nos fuja».

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