Operação poética especial

vejo o poema criar-se

do levante que o ateia

faz-se insígnia errante

 

saca do revólver

activa o cão

carrega o tambor

na expectativa o canhão

descarrega

 

não das veias

mas recruta o sangue

oculto penetrante

que se transmuta em seiva

 

o avanço dos fluídos

que a vida exsuda

superior ao fornicanço

o ofegar desse movimento maior

que a carne em arrebatamento

 

o monumento

não só de cimento

o divino que se expõe

nos fragmentos do tempo

caveira de cristal

canta liberdade terminal

resiste somente

o comovente & extraordinário

 

poder.bélico.decisivo.

declaração de guerra frontal-fatal-vital-total

ou a paz que não se demora

o crente que não ora

o ser fora de si

 

a palavra

no átomo que o constitui

que o destrói

que o institui

que se reconfigura

delibera se dura

se depura ou transfigura

em excremento

ou no momento

duradouro

 

a serpente só

solta a pele exígua

ciciando contígua ao osso

colosso primordial

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AUTOR(A)
Cobramor

Cobramor é o pseudónimo literário de Hugo Filipe Lopes, praticante de poesia vadia, escritor amaldiçoado, de alma Beatnik, espírito libertário e inspiração mística. Formado em sociologia, nasceu na década de 70 numa Lisboa há muito desaparecida e emigrou recentemente para o sul profundo para tentar viver deliberadamente.

Premiado no concurso Lisboa à Letra e mencionado no concurso de poesia da Casa da Moeda, fez também traduções literárias de nomes como John Zerzan, Robert Frost, Patti Smith ou Bill Wolak.

Publicou o seu primeiro livro, “O fim da noite” em 2016 pelas publicações Nabo e o seu mais recente trabalho, “Sol Invicto”, pela editora Traça.

Tem participações em diversas revistas e eventos literários, encontrando-se de momento numa digressão literária pelos sítios prováveis e sobretudo pelos mais improváveis.

Brevemente conhecerá a luz do dia o seu primeiro livro infantil, “O atlas do coração”.

Está sempre aberto a propostas e parcerias, de preferência, indecentes, improváveis e até inacreditáveis.

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