Não quero ser como os outros, nem posso ser.
Onde está tudo o que não tenho? Fama,
Reconhecimento, mestria inata ao escrever?
Estou sem prosa, sem poesia, sem drama.
Posso, talvez, sem morrer, ser fantasma…
Posso transformar o meu querer e vida
Para refletir, sem espelho, o que entusiasma,
Sem tamanho, comparação ou medida.
Mas posso manter a minha fragrância?
Posso ser quem sou em cada pequeno passo
E percorrer o afastamento e a distância
Em cada detalhe de tudo o que faço?
Sim, posso! Todo o sentir é um rumor
Que já quase passou pelo mundo inteiro,
Tanto por lágrimas como por humor,
Por quente praia de areia e frio nevoeiro.
Tudo é tempo e tudo é reminiscência –
Exceto o que não é: sonho ainda porvir.
Sobra realidade, eternidade e existência
Enquanto o meu peito puder sentir.
Os outros percorrem-me pelos dedos,
São devaneios meus, outros fragmentos,
As emoções deles, bravuras e medos,
E segredos que são como fingimentos.
Tomam-me por infrequente invasão
Com persistência subtil e inconsciente,
Usam-me, usam a minha própria mão.
Quem? Cada ator ido que ainda sente…