Nunca sonhei ser escritora. Não porque isso não fosse uma coisa que eu não quisesse, mas porque era uma realidade tão distante, tão inatingível, que nunca chegou a entrar nos meus desejos «realizáveis».
Creio que é aí que reside o «nosso» maior problema. Sempre nos ensinaram, desde pequenos, que há sonhos e sonhos. Uns, pelos quais somos formatados quase à nascença e outros, mais tarde, que aprendemos a «desformatar».
Na realidade, o que é um sonho? Um sonho não é mais do que algo que almejamos, mas sabemos que dificilmente alcançamos. É nisto que nos fazem acreditar. Que os sonhos são só sonhos e que nunca se sentarão à mesa connosco.
Os sonhos são (só) sonhos e sonhos não são objetivos. São, sim, na maior parte das vezes, os objetivos de outrem. Os outros sonhos. Sonhamos em ter boas notas, ser bons alunos, acabar o curso, procurar trabalho na área – e isso já é um grande sonho –, encontrar o melhor par, ser mãe/pai (que para alguns nunca foi um sonho), comprar uma casa bonita – se possível, com piscina – e ter um carro à porta. Fim de sonho.
E depois? Depois, creio que é aí que reside o «nosso» maior problema. Passamos a maior parte da vida a acreditar que os sonhos são só isso, que se resumem ao que os outros sonharam para nós.
Só que não.
Os sonhos vão (muito) além disso. Os sonhos começam no instante em que acreditas que os sonhos afinal não são (só) sonhos, também são objetivos. E isso começa quando dás uma oportunidade deles se sentarem à mesa contigo. E é quando te perguntam: «Do que é que estás à espera para realizares os teus sonhos?», ou melhor, «O que é que te impede de tentares?».
Confrontado com isto, percebes que te deves, pelo menos, a tentativa de ser feliz. E é aí que convertes os sonhos em objetivos. E tal como qualquer outro objetivo, estes também requerem (muito) trabalho, dedicação, resiliência e perseverança. E alguma teimosia.
Ninguém sabe para que caminhos nos levam os sonhos. Mas quando os «despromovemos» de sonhos e lhes atribuímos a categoria de objetivos, toda a viagem é compensadora. A força de acreditar (em nós) é o princípio de fazer acontecer. Por isso, sonha alto, sonha raso, sonha devagar ou mais depressa, mas nunca deixes de acreditar que és capaz de sonhar e de (te) realizar. O que nos faz voar não é termos muitos sonhos, o que nos faz voar é saber que nada nos impede de (continuar) a sonhar.
Nunca sonhei ser escritora, mas, um dia, dei-me a oportunidade de o ser. E quando digo dei-me a oportunidade, o que quero dizer é que lutei mais do que nunca, que me muni de forças quando elas insistiam em fraquejar, que fui buscar fé (na vida) onde ela não existia, que sequei muitas lágrimas a tentar mais uma vez e que me blindei com a última coisa a morrer – a esperança.
E foi por nunca ter desistido de acreditar que hoje posso continar a sonhar.