Gosto de Paris e dos seus clichés. Gosto dos entardeceres sob o zinco da esplanada do “Café de Flore”, folheando um livro acabado de comprar, ali mesmo do outro lado da rua, na livraria “La Hune”. Gosto de caminhar à deriva por Germain-des-Près, guiado pela intuição do passeante, e de ir, depois, pela Rue de Seine, cruzar o arco que dá para o Quai de Conti e para a Pont des Arts onde — quem sabe? — talvez sob “a luz cinza e esverdeada que flutua sobre o rio possa entrever” a Maga da “Rayuela” de Julio Cortazar, umas vezes “andando de um lado para o outro da ponte, outras vezes imóvel, debruçada sobre o parapeito de ferro, olhando a água”. Gosto dos bouquinistes ao longo dos cais do Sena. Gosto da Île de Saint-Louis com as suas boutiques elegantes. Gosto de deambular pelo Marais até à Place de Vosges e, depois, tomar um chá na Rue Vieille du Temple. Gosto da Rue Mouffetard, “essa maravilhosa rua estreita com o seu mercado sempre coalhado de gente”, cruzada por Hemingway a caminho do “Café des Amateurs”. Gosto do aroma forte dos queijos que assomam nas vitrines da velha crémerie da Rue Saint Jacques. Gosto da livraria “Arbre à Lettres”, na Place Contrescarpe, onde vem desembocar a Rue Mouffetard. Gosto de errar pelas passagens secretas, onde Walter Benjamin via Paris como a cidade dos espelhos. Gosto de me imaginar “Le Paysan de Paris” e como Aragon perder-me na sua cartografia, escutando a formidável ressonância das pequenas coisas que apenas se revelam ao passeante. Gosto de Paris, porque, como escreve Enrique Vila-Matas, “Paris Nunca se Acaba”.
