Nas agências literárias e nas editoras, quando a gente conversa sem filtros, fala-se abertamente que muitos equívocos são cometidos e, com mais frequência – e, pior ainda—, o bendito escritor não se acha culpado.
Para que entendas o que se passa nos bastidores, vou revelar uma lista básica de cinco tópicos, que tendem a se repetir na minha lida diária com escritores de várias partes do mundo. Claro, muito escritor nem gosta de saber que essas são as nossas conversas internas e sem filtros. Porém, se tiveres coragem, desafio-te a leres até ao fim. Podes incomodar-te, mas estarás um passo mais próximo da publicação comercial.
Um conceito terrível
Alguns conceitos de história simplesmente não funcionam. Gostávamos que resultassem, mas não resultam. ‘Como assim?’, pensas. ‘Tenho ideias geniais’, dizes, ‘o James é que não se apercebe. Que tal um romance “educacional” para jovens adultos com resmas de explicação sobre ciência climática?’ Complemento: descrito em um enredo meio mole e sem graça? Nem pensar! Digo mais, a ambição cerra o coração e o autor para de ouvir conselhos, não se aprimora, é tragado por um sonho e esquece-se de que publicação comercial é uma indústria e, como a desgraça que não marca encontro, termina de escrever o ‘livro’ e já ela está ali, à espreita, quando o autor envia o suposto ‘texto’ a meia dúzia de editoras e recebe seis belos «NÃO!!!» Há os que me dizem: ‘acho que está na hora de eu refinar as minhas técnicas e entender o que é escrever para publicar’. Contudo, há os que contrariam a realidade e sugerem ‘um livro para adultos que apresenta a história de vida do papagaio do autor’. A simples ‘história do autor’, se ele não for uma pessoa já pública ou pretenda ser? Quem pagaria o equivalente a dois jantares num restaurante mediano para desfrutar de uma história de papagaio, a menos que esteja magistralmente escrita? Vale mencionar os que me dizem: ‘já sei, uma conversa imaginária entre personagens famosos, vivos ou mortos, «O dia em que Platão encontrou Lula da Silva…» Isto há de vender!’ Poupa-me!!, penso, mas não digo, pois evito magoar. E há tantas outras coisas que não têm a menor hipótese de vender. Ninguém mais quer ler uma história triste sobre uma crise da meia-idade e tantas outras histórias clichés. Se não fores um gênio para tornar esses assuntos interessantes, ninguém vai se interessar.
Dá para corrigir? Não! Tu só precisas começar de novo. Desculpa!
Um livro que não leva o assunto ao extremo, que não encanta o suficiente
Surpreendentemente, é algo que muito a gente vê. Suspiros que não são muito emocionantes. Comédias que realmente não te fazem rir. Romances que não são realmente tão românticos ou sexy assim. Ficção motivacional que, na verdade, não anima o leitor. Histórias têm de ser realmente emocionantes. Não envolveu, não vendeu.
Dá para corrigir? Dá! Podes corrigi-lo – a princípio — com muito trabalho, mas, na maioria das vezes, é melhor que escolhas uma ideia melhor. O problema não está no manuscrito em si, está na arquitetura da história, não é ‘assim’ que se escreve para publicar.
Um livro escrito para um público que não existe mais
A menos que faças algo distintamente novo, não há nenhuma razão pela qual agentes, editores ou leitores devam favorecer o teu livro sobre outros mais contemporâneos, no momento da aquisição de um texto para publicar. Não passa, por exemplo, uma semana sem que eu receba um ou dois manuscritos de histórias alegadamente infantis, que parecem escritos para crianças da década de 1950. Crianças e jovens querem assuntos contemporâneos, a família do ‘comercial de margarina’ nunca existiu, mesmo naquela época. Pior! Hoje, a imagem tornou-se repugnante, uma família ridícula, que parece sair de um culto fundamentalista, homofóbica, misógina, sexista e racista. O jovem é mais esperto, mais ligado. Pede histórias do ‘aqui e do agora’.
Dá para corrigir? Possivelmente, não. Porque tende a ser a visão retrógrada do mundo em que vive o autor. Talvez ele seja lido se publicar em uma revista conservadora, ou vendido na livraria do culto fundamentalista que frequenta. Na livraria do aeroporto ninguém mais compra esse tipo de coisa.
Um livro sem um «quê» discernível
Às vezes, o texto até que está bem escrito. É uma história de amor genuína. Parece contemporânea. O manuscrito pode até, em termos de qualidade, demonstrar um ótimo ângulo e um bom conceito e, no geral, ser cativante. A mulher do viajante do tempo? Quero ler mais. Uma escola para feiticeiros? Conta-me sobre isso. Um hacker de computador sueco com Asperger? Se o teu livro não tiver esse «quê» a mais, provavelmente não vais conseguir publicar.
Dá para corrigir? Sim. Mas dará muito trabalho. Normalmente, precisarás tomar algum aspecto já existente no romance e levá-lo mais adiante do que até então ousaste ir.
Apresentação ruim
Há textos que nos enviam em fontes ‘de livro já impresso’, por exemplo. Aqueles que nunca viram um corretor do WORD, pelo menos, ou a pontuação se esqueceu de aparecer para o trabalho quando o autor escrevia. Ter um conhecimento mediano da língua em que escreves é essencial, uma formatação neutra do manuscrito apresentado é crucial.
Dá para corrigir? Claro! Vai à livraria mais próxima e compra um livro de gramática e redação. E lê muito, lê tudo, de todos os gêneros. O bom autor é um bom leitor.
Aprende os princípios básicos da autoedição para que possas desenvolver as tuas próprias habilidades editoriais. Lembra que escrever um livro requer técnicas específicas, que nada tem a ver com criatividade. Nos meus 44 anos de profissão trabalhei com milhares de autores e editei ou ajudei a editar mais de 10 mil livros! Digo, então, com base na experiência: não é um caminho fácil, mas é totalmente factível.
Dá para saberes mais? Dá! Fala comigo! @jamesmcsill
James McSill / Instagram: @jamesmcsill