Há algum tempo, em conversa com o meu marido, comentei que estavam a decorrer formações na empresa onde trabalho. Pensava que só me podia inscrever numa delas pela forma como foram anunciadas as vagas, então só me inscrevi numa, contava-lhe. Contudo, depois descobri que vários colegas se tinham inscrito em todas.
— Estou cheia de trabalho! Escolhi a formação que tem o horário pós-laboral, mas há pessoas que se inscreveram em todas! Como é possível? — contava-lhe, num tom um pouco indignado. — Se os meus colegas fazem todas as formações, também vou fazer. Não sou mais tola do que eles!
A resposta do meu marido foi breve e incisiva:
— Mas o que é que tu tens a ver com os outros? Que mania essa de te comparares com as outras pessoas.
Fitei-o por cima dos óculos, com um olhar pensativo. Queria responder-lhe algo, mas nada me ocorria. Aquela conversa deixou-me a pensar. Porque me importava assim tanto com o que os outros faziam ou não? Realmente era verdade. Eu dava muito valor à opinião alheia. “O que posso fazer para contrariar ou melhorar isso?”, pensei. A resposta surgiu instantaneamente, aceitar-me como sou, esse seria o primeiro passo. Todos nós temos defeitos e qualidades. Não somos seres perfeitos, mas seres em evolução. Peguei numa folha de papel e comecei a escrever todas as minhas qualidades. Isto fez-me sorrir e senti gratidão pela pessoa que sou. Logo depois, fiz outra lista, com os tópicos que gostaria de melhorar como: às vezes falar sem pensar, procrastinar, ser indecisa, etc. Também incluí na lista características físicas que não gostava em mim e que não conseguia mudar e ao lado escrevi uma vantagem associada a essa qualidade. Por exemplo: sou baixa — não bato tanto com a cabeça nas coisas.
Outro aspeto de que me apercebi ser necessário mudar: o pensamento negativo e o medo de errar. Parei de dar tanta importância a tudo e comecei a descomplicar. Cada vez que entrava em pânico e achava que o pior iria acontecer, substituía esse pensamento por outro pensamento oposto e motivador. E se algo não correr bem, há que aceitar que errar faz parte do processo. Errar e corrigir é o que nos faz melhorar. A vida é feita de experiências. Se nunca me permitir errar, nunca irei fazer nada de novo, nunca irei avançar. Jamais alguém melhorou por “chicotear-se” vezes e vezes sem conta, sobre algo que fez mal. Sê a tua própria cheerleader! — escrevi em maiúsculas no caderno.
Assim, comecei a desenvolver o hábito de dar uma palmadinha a mim própria nas costas. Cada vez que corria algo bem, fazia uma pequena dança de vitória e dizia a mim própria: “Boa miúda! Continua!” Quando algo corria menos bem, fazia ajustes, anotava esse tema na minha lista diária de “o que aprendi hoje” e ao lado escrevia o que faria de diferente.
Não tenho de pensar duas vezes, ou comparar-me com alguém antes de fazer algo, tenho de sentir se aquilo, se aquela peça se enquadra com o puzzle da minha vida. O reflexo no espelho é o meu, não o dos outros. Por isso, tenho de ter a coragem de ser quem sou. Como diz a autora Júlia Domingues, “(já) não é sobre ser melhor do que os outros, é sobre sermos melhores do que ontem.” Que o hoje seja sempre um caminho em direção a melhores versões de nós próprios, a cada passo que damos. Não quero ser igual às outras pessoas, quero ser quem eu sou. Isso sim requer coragem.