Editorial
A literatura como inspiração para a vida (interior e prática) não é uma novidade. Todos guardamos no subconsciente citações, enredos e reviravoltas que encontrámos nos livros consumidos. São estes que, sedimentados ao lado de provérbios e ensinamentos maternos, nos guiam pelo dia-a-dia.
Esta reunião do saber é responsável por muito do que somos e por tantas decisões subconscientes que, por serem tão frequentes, têm peso no que vivemos e em como o fazemos.
Com esta certeza em mente, sabendo que o que foi escrito antes de nós também nos inspira a escrever, procurámos, entre os grandes antecessores, o mote para este número da revista «PALAVRAR — ler e escrever é resistir».
«Preferia que não», expressão imortalizada por Herman Melville, com Bartleby, foi o mote selecionado. Serão óbvias as conclusões associadas numa perspetiva de identidade, e postura perante a vida. No entanto, o momento pareceu-nos especialmente adequado, tendo em conta a presente onda social pós-pandémica, que questiona as fronteiras herdadas entre trabalho e vida pessoal. Este foi o lema para o presente número, mas a originalidade e identidade de cada escritor é mérito dos respetivos intervenientes.
Por fim, na celebração do nosso terceiro aniversário, resta-me agradecer-lhe, caro leitor, por descobrir a cada número os bravos que preenchem as nossas páginas. Muito obrigada.
Diana Almeida
O mote para esta edição da «PALAVRAR – ler e escrever é resistir» é um convite à reflexão sobre o poder subjacente às palavras «preferia que não», proferidas por Bartlely, O Escrivão, de Herman Melville.
Estes três simples vocábulos, assim irmanados, encerram uma multiplicidade de significados. Representam uma resistência consciente e a escolha deliberada de negar. Na literatura, na vida.
Numa época em que somos pressionados a concordar mais do que desejamos (por vezes, de forma subliminar), esta edição pretende ser um manifesto da recusa. Dizer «não» poderá ser a escolha mais significativa e acertada que fará um dia.
«Preferia que não» é uma declaração de independência, um ato de preservação da identidade e uma manifestação de resistência, face às imposições sociais. É o lugar de fala que nos pertence.
Na nossa PALAVRAR, esta frase originou diversas interpretações, narrativas surpreendentes, personagens memoráveis e reflexões profundas acerca da natureza humana.
Convidamos os leitores a explorar as diversas facetas deste «preferia que não», através de contos, crónicas, poesia e outras histórias, nas páginas e linhas que se seguem. Um verdadeiro abraço ao espírito de negação com outras perspetivas que desafiam a narrativa predominante.
Possa este «preferia que não» ser o ponto de partida para uma nova jornada criativa, uma afirmação do direito à escolha e forma de expressar a sua (e a nossa) voz, no meio do tumulto do mundo.
Analita Alves dos Santos