Amanheces naquela teimosia que o sol nasce todos os dias
e nas mãos as linhas renovam-se nos atropelos dos dedos curvados
entrelaçados numa ideia que fica por ali perdida
na berma dos lábios.
Já não sabes decifrar sorrisos, nem tão pouco sabes o que queres;
os movimentos parecem-te iguais, demasiado translúcidos,
descompensados apressados atrasados,
ainda que tragam a dor de mais uma torção na invisibilidade
de ler nos olhos o abandono que eles gritam.
Espantas-te, imagina, ao fim de tanto tempo
ainda te espantas,
as pessoas focadas naquilo que as faz caminhar,
a imagem refletida no espelho,
a transbordar uma positividade
exposta em fotografias que ficam;
e tu, o cansaço como ilha,
à espera que a ponte surja no nevoeiro a que te atiraste
como naquele dia em que te lançaste para outros braços,
na esperança de que formassem um arquipélago,
somente para que o teu sangue colidisse com um coração.
Porque no fim só restam os outros
e os outros, às vezes, até somos nós.
E se parássemos para observar o desenrolar da folha de uma planta
talvez até questionássemos:
ainda haverá mundos por vir?