Together forever!

Quando menos se espera, o amor bate à porta e transporta-nos, com ele, para uma outra dimensão. A dimensão do mais belo e nobre sentimento. O sentimento impulsionador de outros. Que tão bem nos faz (e nos traz).

 

O suave arrulhar da respiração quente ao seu lado traz-lhe, agora, a doçura das palavras dele, repetidas tantas vezes, transportando-a nas ávidas lembranças do tempo, em que, sobre as suas cabeças, o teto diferia.

A chuva que se faz anunciar leva-a às memórias dos dias em que a inocência se assinalava nos sorrisos do olhar. Transformando-a, de novo, na “pintainha”, como carinhosamente, a alcunhava. Digamos que a esta singela alcunha se pode atribuir um duplo sentido. De facto, naquele início de novo milénio, ela não passava de uma pintainha.

Homem feito, não se deixou abalar quando, naquele dia, o seu sorriso irradiou a frescura do olhar dela. Na simplicidade das suas meias palavras, descobriu um coração puro. Disposto a amar. A precisar de ser amado.

Desde aquela tarde, ela não mais voltou a ser a mesma. Ele também não. As marcas que lhe deixou, povoaram-lhe os sonhos mais profundos. A sua resistência deu-lhe luta. O seu medo desbravou-lhe o caminho. Assaz corajosa como nunca, dispôs-se a tudo, por amor dele. Do homem que a arrancou à adolescência aborrecida, em que gastava dias sem interesse.

Camilo Castelo Branco, no seu “Amor de Perdição, falou “do amor da mulher aos quinze anos, como paixão perigosa, única e inflexível; … uma brincadeira: a última manifestação do amor às bonecas…”. Tal como Teresa de Albuquerque também ela amou, “e com mais seriedade do que a usual nos seus anos”. Verdadeira, forte, discreta e cautelosamente. Sem provocar suspeitas ao redor. Nas famílias, sobretudo.

Naquele fim de tarde, como raposa matreira, conseguiu ir ao encontro dele. Na escuridão que envolveu os lábios sequiosos, escutaram abraçados os fragmentos do que lhes pareceu one more time, celebration, tonight, one more time, we’re gonna celebrate. Mais tarde, descobriram a canção completa, na voz dos Daft Punk, eleitos como a batida dos seus corações. Padrinhos do romance mistério, pejado de desejo, emoção e adrenalina.

Nos anos em que se esconderam do mundo, mais se descobriam um ao outro. As areias de praias desertas foram testemunhas de passeios à beira mar, em fins de tarde outonais. As aulas, simples recantos de encontros fugazes. Os cafés da vila, palco de suaves olhares expressivos, quando as condicionantes a mais não permitiam. Discretos toques de mãos arrepiavam-lhe a nuca, toldando-lhe os sentidos.

Nunca se vergaram. Nem mesmo quando lágrimas amargas insistiam em corroê-los. Nem mesmo quando as dificuldades em estarem juntos os obrigavam a derrubar obstáculos. Nem mesmo quando as evasivas já não serviam para disfarçar a paixão. Nem mesmo quando todas as evidências apontavam na direção certeira do amor crescente.

A cada dia, a vontade de estarem juntos era sufocante. Ainda que os riscos que corriam fossem superiores ao benefício dos desejos. Sofreram. Fizeram a travessia do deserto, envoltos num oásis de amor. Mas, desde aquela tarde de um janeiro mais ensolarado que o habitual, (assumiu que) desistir (dele) não era opção (para ela).

Três anos. Três anos de um amor sustido apenas na certeza do bem maior. Sonhos traçados. Planos assumidos. A espera pela maioridade. A dela. Que, afinal, não veio acompanhada da liberdade para amar. Nova espera, aflitiva. Confortada somente nos braços quentes que se sustinham.

Acompanhada da coragem que, ainda hoje, não esperava ter, veio a resposta que tanto aguardava. “A cama que ela fizer, é a cama onde ela se vai deitar”, foram as palavras com que o pai lhe cortou as amarras da escuridão. Sim, podiam sair juntos, às vistas claras, sem medos nem fantasmas. Sem esconderijos nem subterfúgios.

A jovem estudante, trabalhadora, esforçada, determinada, teimosa (como um raio), que um dia se apaixonou pelo homem maduro, com uma vida estabilizada, um tanto ou quanto “certinho”, cumpridor, trabalhador, honesto, lutou. Contra furacões e tempestades, más línguas e fofoquices. Seguiu, escutando apenas o seu coração.

Ele, mais cauteloso, lutou com ela, no seu jeito tímido, sem forçar barreiras, sem saltar etapas, sem duvidar da força da paixão dela, por mais inconstantes e efémeras que as paixões possam ser na adolescência rebelde.

Ela agitou os dias dele.

Ele acalmou as tempestades nos dias dela.

Ela agarrou-lhe o coração.

Ele segurou-a pela mão.

Hoje, dentro de paredes, onde o pensamento a leva à recordação, está tudo o que mais quer. No quarto contíguo, os filhos sonham tranquilos. Ele, ao seu lado, dorme sereno. Só ela se perde nas raízes do tempo, lembrando o caminho sinuoso que os trouxe até aqui.

E juntos, ainda hoje, aperfeiçoam todos os dias a sua fortaleza, cercados da vontade de nunca a deixar ruir.

Porque desde 2001 que preferiram trazer consigo as palavras que sempre os encorajaram.

Porque desde 2001 que preferiram lutar pelo together forever!

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AUTOR(A)
Ana F. Pinheiro

Ana F. Pinheiro, nasceu em 1985, em Almancil, Loulé. Casada, mãe de dois rapazes, licenciou-se em Educação Social. Atualmente exerce funções de Diretora Técnica numa IPSS.

Apaixonada pela leitura, descobriu o prazer da escrita com a participação no Concurso de Escrita Criativa Poeta António Aleixo. Permitiu-se soltar as suas palavras, pondo a sua «Escrita em Ação» e percebeu que é a escrever que se sente completa, feliz e realizada.

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