uma nova estrela

Uma Nova Estrela

Há ocasiões em que me pergunto por que motivo nasce uma nova estrela cada vez que sonhamos. A única explicação que encontro é que o céu é infinito.

Os sonhos, tal como as estrelas, precisam de firmamento. De nada vale uma estrela inobservada. Será que existe se ninguém a estiver a ver? Os sonhos também são assim. Pouco importam se permanecerem escondidos na camada porosa do medo. Somos pele — a pele pesa —, mas não só ela nos sustenta. Somos carne — a carne mostra-se —, mas é um tesouro corrompível pelo tempo. Somos sonhos — e esses, sim, tornam-nos imortais. Os sonhos não envelhecem. Quando fechamos os olhos, somos quem sempre fomos sem o lastro do que já vivemos.

É preciso agir, dar corda aos sonhos. Sonhar é o primeiro passo rumo à eternidade. Depois da primeira passada é necessário avançar, mesmo que todos os dedos apontem noutra direção. Lembre-se: muitas manadas se perderam e se espezinharam.

No caminho dos sonhos há algumas sombras e uma ponte periclitante de cordas sobre um desfiladeiro, um Grand Canyon sem fim à vista. Nunca se sabe qual tábua vai ceder. Continuamos, pé ante pé. Por vezes, saltamos uns quantos degraus, quase caímos. Ficamos suspensos, agarrados à corda fina que nos escorrega das mãos. Respiramos lentos para, mais leves, se cairmos, o vento nos suavizar a queda. Caímos de quatro, apoiados nos nós dos dedos. Isto de sermos bípedes ainda é recente. Recomeçamos. Aprendemos? O ideal: não cometermos os mesmos erros, mas isto de sermos humanos ainda nos obriga a folhear muitas páginas.

Os sonhos empurram-nos para o que precisamos, não para o que desejamos. A diferença é ténue. Quando a compreendemos, a grandeza apodera-se de nós. Há sempre algo de divino em tudo o que criamos. Os sonhos são o pó das estrelas que permanece em nós, reminiscências das nossas reais potencialidades.

Há sonhos impossíveis? Claro que sim. Não se deixe enganar por conversas moles. Sabe qual o segredo? Enquanto procuramos alcançar o tal sonho impossível, avançamos mais longe do que alguma vez esperávamos. Abraçar essa verdade é a fórmula secreta do êxito e da felicidade de cada momento, que isto da felicidade plena já se sabe: não existe.

«Eles não sabem, nem sonham Que o sonho comanda a vida E que sempre que um homem sonha O mundo pula e avança Como bola colorida Entre as mãos de uma criança.»

Enquanto sonha, tenha a certeza de ser capaz. Quando o desafio lhe parecer perdido, tente contrariá-lo. A História está repleta de enganos que deram certo. Mas, se for preciso, não insista. Desistir também é uma opção. Não há vergonha alheia em quem reconhece que o melhor foi investido sem os resultados esperados, e procura outro sentido. Sem espaço para frustrações, desmonte a tenda, apanhe o lixo, apague a fogueira e parta noutra direção. Seja um nómada de sonhos, nunca pare de sonhar. Enquanto sonha, nasce uma nova estrela. Alguém saberá quem ela irá, um dia, guiar?

«Uma visão sem ação não passa de um sonho. Ação sem visão é só um passatempo. Mas uma visão com ação pode mudar o mundo.»

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AUTOR(A)
Analita Alves dos Santos

Analita Alves dos Santos nasceu na Alemanha a 20 de outubro de 1974. É autora, formadora de escrita e mentora literária, com certificação internacional em Storytelling, Pós-Graduação em Escrita de Ficção e várias formações em Escrita Criativa. É ativista literária e incentiva o «cuidado com a Língua».

No âmbito do seu projeto «O Prazer da Escrita» dinamiza formações, eventos online e presenciais por onde já passaram milhares de pessoas.

Foi professora assistente convidada na Universidade do Algarve e formadora de Escrita Criativa no Instituto de Emprego e Formação Profissional, funções que desempenhou com o objetivo de promover a leitura e o «escrever mais e melhor».

É curadora do clube de leitura «Encontros Literários O Prazer da Escrita», um dos clubes de leitura online mais dinâmicos em Portugal, que conta o apoio institucional do Plano Nacional de Leitura, e a criadora da «Agenda do Escritor», a única agenda direcionada para o ofício da escrita e incentivo à leitura.

Começou por publicar livros infantis, coordenou e participou em diversas coletâneas de contos e assina colunas de opinião em jornais nacionais. «Erros de Português Nunca Mais» é o seu mais recente livro.

Complementando o seu trabalho de autora, realiza regularmente ações de escrita criativa e de incentivo à leitura junto de escolas, bibliotecas e feiras do livro.

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