Onde estás?
Procuro-te nas ondas e marés,
Na água salgada das lágrimas derramadas,
Nos rios e riachos que desaguam nas mágoas da maresia.
Onde estás?
Procuro-te nas palavras errantes,
Nas palavras engolidas que provocam indigestão
E corroem as veias e artérias do coração.
Raios! Onde estás?
És invisível aos olhos?
Intocável às mãos?
Sem cheiro ou gosto?
Onde estás?
Procuro-te na imensidão dos dias,
No céu estrelado,
Nas nuvens, disfarçadas de personagens.
Onde estás?
Procuro-te no nevoeiro dos pensamentos,
Na loucura dos sonhos sonhados
Com os olhos abertos à vida sem sentido.
Ouves-me?
Onde estás?
Procuro-te nas músicas que me estremecem,
Que vibram na pele como um raio,
Nos beijos e abraços guardados no baú,
Na lassidão do sexo e das carícias.
Que desespero! Não te encontro!
Onde estás?
Procuro-te nos livros lidos e imaginados,
Nos romances, nos contos, na poesia,
Nas linhas e entrelinhas da fantasia.
Sorrio, rio e dou gargalhadas.
Estás aqui ou escondeste-te no silêncio do nada?
Paz, onde estás?
Preciso de ti, mais do que de alimento, mais do que de ar.
— Estou aqui!
— Onde?
— Dentro de ti.


