A vida é apenas um intervalo entre nadas.
O nada de ainda não termos nascido,
e o nada de já termos morrido.
A vida é escadas.
É uma ligação entre dois vácuos iguais, mas diferentes.
A vida é uma ponte entre a inexistência total
e a vastidão do não ser, brutal.
A vida é um caminho que, entrementes,
chega ao fim, sem nos ter levado para lugar algum,
e sem ter partido de lugar nenhum.
A vida é o que está entre dois mundos,
dois mundos, que não são nem mundos nem sequer dois separados.
O que é a vida?
Não sei,
nunca soube e também nunca saberei.
É talvez o dom de fugirmos do abismo do nada,
ou, porventura, o pesadelo de sairmos da tranquilidade imperturbada.
Só sei isto: ainda não premi nenhum gatilho,
não vejo sangue a correr pelo chão, como um rastilho,
para o Destino, para aquele Destino que ainda não consigo querer,
porque, se calhar, o nada sucumbe perante o ser.


