Autor(a):

Margarida Correia
Margarida Correia

No princípio era o verbo

No princípio era o verbo,

e do verbo só conhecias a sede e a fome.

Trazias secura e no beijo buscavas a frescura,

como se o sol se abrisse à pétala.

Em descidas cadentes ao altar do corpo

vais mordendo o canto do lábio

e concitas, como quem entoa uma canção:

desliza a camisa, botão a botão.

Serves-te do vício insaciável e, na teia

das dobras quentes no branco do lençol,

aninhas suspiros na letargia de confortos

onde a ilusão dança na luz que te seduz.

Teces labirintos em olhares famintos

inflamando ecos no desassossego dos dedos

e sulcas a polpa orvalhada da pele.

Cálice entregue à boca,

líquido que pelo queixo escorre,

bálsamo para as feridas

na berma da solidão,

onde já só resta o ajoelhar da oração.

A taça e o pão

língua na língua

mão na mão,

por fim,

entregas-te ao palco da carne,

alcançada a redenção.

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AUTOR(A)
Margarida Correia
Margarida Correia

Margarida Correia é natural de Lisboa. É Mãe, licenciada em Gestão e informática de profissão.

Viciada no poder da palavra escrita, a folha branca e o carvão são a extensão da mão desde a adolescência. Escreveu em pregões da Blitz, quando era um jornal. Arriscou no DN Jovem. Rabiscou em blogs, murais e fóruns de escrita. Apaixonada pela poesia, é nela que encontra o equilíbrio, possuindo mais de trezentas páginas, guardadas por aí.

Durante a pandemia, sentiu curiosidade em aprender mais sobre o ofício da escrita, tendo frequentado uma «Oficina de Poesia», com o escritor José Luís Peixoto, os programas «Escrita em Ação» e «Livro em Ação», dinamizados por Analita Alves dos Santos e o curso «Escrita de narrativa original do princípio ao fim», do escritor Afonso Cruz.

Tem poemas publicados em algumas coletâneas de poesia e em revistas digitais. Participa ainda com o conto «Contramão» na coletânea de contos «Que o caminho não nos fuja».

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