Autor(a):

Maria José Esteves
Maria Bruno Esteves

Tuca, A Caneta Mágica

Tuca, a caneta com bico roxo, está triste com a ausência de Micas, a menina de olhos cor de mar. Aguarda que ela a segure com delicadeza e, juntas, escrevam histórias incríveis.

Nisto, surge uma presença inesperada: Macarrão, o gato branco com olhos de lince. Salta com suavidade e aterra na secretária.

– Olá, Macarrão. Não esperava ver-te por aqui.

– Vim dar uma espreitadela – responde ele, com um ar de quem sabe mais do que diz.

– Ah, entendi. Tinhas saudades das minhas histórias, não é?

– Claro, Tuca. Adoro uma boa história, em especial se envolver sardinh… quer dizer, aventuras emocionantes.

– Ah, ah! Muito engraçado, mas hoje estou um pouco triste, Macarrão. Sem a Micas por perto, sinto falta de inspiração.

– Não digas isso, as tuas ideias dão vida às histórias – ronrona Macarrão, como se estivesse a afiar as suas palavras.

– Queres ajudar-me a escrever?

– Eu? Escrever? Bem, já ouvi falar de gatos com muitos talentos, mas a escrita não é a minha especialidade. Prefiro caçar ratos de ideias.

– Oh, não te preocupes, Macarrão. Não necessitas escrever, apenas virar as páginas do caderno. És o meu assistente.

– Ah, isso posso fazer. E quem sabe, talvez até dê uns palpites.

– Ótimo! Então vamos começar. Prepara-te para testemunhar o meu talento.

– Estou pronto para surpresas. Mas, por favor, sem histórias sobre gatos aventureiros — acrescenta Macarrão com uma grande gargalhada.

 

Então, o gato estende a pata e empurra delicadamente a caneta para cima das páginas em branco do caderno. Devagarinho, com esforço, ela levanta-se e, num equilíbrio arriscado, começa a escrever.

Com o incentivo de Macarrão, Tuca sente-se inspirada.

– Começar é a parte mais difícil – murmura Tuca, enquanto luta para formar as primeiras letras e dar voz às ideias.

– Já em perfeito equilíbrio, começa a escrever a história.

«Um elefante dançava na rua à chuva…»

 

– Que maluqueira! – interrompe Macarrão. – E aviso-te, se essa história do elefante incluir um gato herói, serei forçado a contestar.

– Ah, ah! Prometo manter os gatos fora do enredo.

– Obrigado, Tuca. Mas, posso fazer uma soneca enquanto escreves?

– Claro, desde que vires as páginas no momento certo. Não podemos parar a história a meio, não é?

– Entendido, chefe! Estou no comando da viradela de páginas. Nada me escapa.

 

Apesar da interrupção de Macarrão, Tuca continua a escrever entusiasmada, a escrever… O gato, sempre atento, abre um olho, estica a pata… e zás, vira a folha do caderno. Os olhos de lince brilham enquanto vira as páginas. Sente-se um verdadeiro herói.

De repente, ouvem um som estranho vindo do caderno. Intrigados, observam uma pequena figura a surgir da tinta ainda molhada.

– Quem és tu? – pergunta Tuca, curiosa.

– Sou o Pipo, um viajante do universo em busca de aventuras. Posso juntar-me a vocês?

Tuca e Macarrão trocam olhares animados e sorriem.

— Claro que sim, Pipo. Adoramos novas experiências e tu pareces ser um bom companheiro de aventuras — responde Macarrão, entusiasmado.

— Vai ser incrível — diz Tuca. — Vamos descobrir muitas coisas juntos.

 

No instante seguinte, Tuca começa a brilhar com intensidade e as palavras escritas no caderno ganham vida própria. Uma luz suave envolve Tuca, Macarrão e Pipo e, por magia, são transportados para dentro da história.

– Uau! Onde estamos? – pergunta Pipo, ao olhar ao redor.

– Ohhh! Estamos numa floresta encantada – diz Tuca, surpreendida.

– Vamos! – diz Macarrão, com um brilho nos olhos.

 

Juntos, caminham pela floresta. Nisto, ouvem um som que parece a voz de uma senhora idosa. Parados, olham ao redor, mas não veem ninguém.

– Podem ajudar-me a encontrar a minha semente mágica? – pede Faia, a imponente árvore com uma grande copa e folhas muito verdes.

Os três amigos aproximam-se da árvore, ainda intrigados.

– Quem está aí? – pergunta Tuca, um pouco hesitante.

– Parece alguém a chamar por ajuda – responde Macarrão, com as orelhas em pé e os olhos de lince atentos a cada movimento.

– Sou eu, Faia, a árvore mais antiga desta floresta – responde a voz, agora claramente vindo da imponente árvore à sua frente.

– Uma árvore falante! – exclama Pipo, com os olhos arregalados.

– Sim, e preciso da vossa ajuda. O vento travesso roubou a semente mágica e sem ela não posso continuar a proteger esta floresta.

– Claro, senhora Faia! – diz Tuca, cheia de determinação. – Nós vamos procurar.

Macarrão, curioso, sobe às árvores e verifica as folhas uma a uma.

De repente, Pipo vê algo brilhar.

– Está aqui a semente! – grita Pipo. – Estava presa entre as folhas de um alecrim.

– Obrigada, amigos. Sem sementes não crescem novas árvores e a floresta desaparece – informa a velha Faia.

Tuca, Macarrão e Pipo sorriem, felizes por terem ajudado.

– Debaixo da minha casca está um sulco onde guardo um mapa mágico – diz Faia. – Ofereço-vos como agradecimento pela vossa ajuda. Mas cuidado, pois o mapa leva a lugares cheios de mistérios e desafios.

Tuca pega no mapa e sente a magia entre as suas mãos. Os três amigos preparam-se para a próxima aventura, sem saberem as surpresas e os desafios que os aguardam.

 

O mapa leva-os ao próximo destino, um labirinto submarino. Mergulham nas profundezas do oceano, onde a luz solar se transforma em suaves raios azulados.

Ao seu redor, encontram criaturas marinhas misteriosas que os desafiam a provar a sua coragem e astúcia. Os murmúrios do oceano criam uma melodia tranquila e enigmática.

— Este lugar é incrível! — diz Macarrão, enquanto nada ao lado de peixes coloridos que brilham como arco-íris no azul profundo.

— E estas criaturas são tão amigáveis! — acrescenta Pipo, enquanto um polvo simpático lhe acena com todos os braços e as suas ventosas fazem pequenos estalidos na água.

A cada curva do labirinto, descobrem novas maravilhas, desde cavernas cobertas de corais luminosos a cardumes de peixes que se movem em perfeita harmonia.

 

Com Pipo ao seu lado, Tuca e Macarrão descobrem que a imaginação não tem limites; juntos, podem criar aventuras inacreditáveis. E assim, continuam, página após página, a encher o mundo com magia, cor e alegria.

Quando acabam de escrever a última aventura, os três amigos sentem-se felizes com as histórias que criaram e as aventuras vividas.

 

Então, uma luz mágica envolve o caderno e transporta-os de volta ao mundo real.

– Uau, que viagem incrível! – exclama Pipo, radiante.

– Sim, foi uma jornada inesquecível – concorda Tuca.

Macarrão solta um miau de satisfação e aconchega-se entre os amigos. Pipo, de sorriso travesso, sente-se em casa, sempre pronto para mais aventuras com os novos amigos.

– Macarrão, sei que és um gato cheio de mistérios. Mas acredita, nenhum mistério é tão fascinante quanto a nossa amizade – diz Pipo.

 

Nesse momento, Micas volta para casa. Quando entra no quarto, fica surpreendida por ver a sua caneta de bico roxo a escrever sozinha com a colaboração do gato Macarrão e de um novo companheiro. O coração de tinta de Tuca dá um salto de alegria ao ver a amiga.

– Micas! – exclama Tuca.

A menina sorri ao ver a cena encantadora. Curiosa e maravilhada, aproxima-se da secretária, sentindo a magia no ar.

– Tuca, adoro as histórias que nos levam para lugares mágicos. É como se viajássemos sem sair do lugar!

Emocionada com a felicidade de Tuca, Macarrão e Pipo, Micas envolve os três num grande abraço. De seguida, com um gesto cuidadoso, pega no caderno e fecha-o com delicadeza.

– A verdadeira aventura está na partilha com os amigos – acrescenta Micas.

 

Só o tempo dirá, mas uma coisa é certa: com Tuca, a caneta mágica, o mundo das histórias nunca mais será o mesmo. Acima de tudo, eles sabem que a amizade é a maior magia de todas.

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AUTOR(A)
Maria José Esteves
Maria Bruno Esteves

Maria José Bruno Esteves nasceu em 1956, no Cartaxo, mas foi em Santarém que cresceu. Fez a sua vida académica e profissional em Lisboa e, em 1981, foi viver para Almada. Licenciada e Mestre em Sociologia, pela Universidade Nova de Lisboa, desenvolveu a sua atividade profissional e de investigação nas áreas da educação, formação profissional e desenvolvimento social, no âmbito das quais foi autora de estudos, artigos e comunicações e coautora de referenciais de educação para a cidadania.

Aposentada, após um cancro lhe ter interrompido o percurso profissional, a escrita e a fotografia são a sua terapia. Começou a participar em cursos de escrita criativa e ganha coragem para publicar as suas reflexões e a sua poesia. A escrita de ficção surge como um desafio.

Publicou o seu primeiro conto «Caminho de Pedras», na coletânea «O Tempo das Palavras com Tempo» e participou na coletânea de poesia «Toca a Escrever 2021» e na coletânea de prosa e conto «Mulherio das Letras Portugal», editadas pela In-Finita.

É no seu blogue «Olhares e Memórias» e nas redes sociais que mostra as suas criações.

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