Construo pontes
sobre rios revoltos
em dias de tempestade
Em provação defronte
num fluxo convolto
em momentos de fatalidade
E carrego
no peso dos dias
uma sentida agonia
De me perder desalentado
na luta de permanecer
agarrar-me à vida, viver
Mas não me entrego
abandono, renuncio, deixo
fujo, desamparo, desleixo
O meu interno estado
o meu espaço dentro
o meu magoado pensamento
Construo pontes
sobre rios revoltos
em dias de tempestade
Em sentidos horizontes
entre passos envoltos
pela enfermidade
E enfrento
quero contrariar
a tendência de definhar
Extinguir-me pelo embate
na habitual ansiedade
na usual instabilidade
E atento
pelo que faço
em focado passo
No meu coração que bate
desejar entender
lograr obter
Construo pontes
sobre rios revoltos
em dias de tempestade
Em caminhos confrontes
em fragmentos ressoltos
pela causalidade
E insisto
animo em mim
incorporo assim
A valência de alcançar
por vontade pensada
por claridade regada
E por fim
seja pelo querer
seja por ter de fazer
seja em que momento for
não mais acolho o temor
de construir pontes
sobre rios revoltos
em dias de tempestade


