Editorial
O Requinte do Inacabado
Haverá uma beleza oculta nas obras por concluir? Um encanto que se insinua precisamente onde falta a última pincelada, a frase final, o desfecho anunciado? Este número da PALAVRAR rende-se ao fascínio do inacabado.
Vivemos ofuscados por metas, conclusões, versões finais. Mas e se o que permanece em suspensão disser mais do que a perfeição formal de um texto encerrado? E se a força da literatura estiver, precisamente, na recusa de um fecho imposto, abrindo espaço para o leitor habitar o que não se diz?
Neste número, celebramos o rascunho que impele. Damos lugar à hesitação criativa, ao esboço que recusa desaparecer, às narrativas que se interrompem como quem deixa uma porta encostada. Aqui, o inacabado não é desistência ou recuo: é outra forma de continuar. É insistência.
Entre contos, ensaios, crónicas e poemas, percorremos os caminhos em que a linguagem se permite não concluir. Encontrará textos que não se fecham — não por incapacidade, mas por lucidez.
Porque talvez o requinte maior esteja em saber parar antes do fim, ou em aceitar que o fim, na escrita — como na vida —, raramente chega quando se espera.
Boas leituras.
Analita Alves dos Santos
Caro leitor.
Cumpre, antes de mais, reconhecer e celebrar o trabalho de Diana Almeida, que concebeu esta revista e a moldou como espaço vibrante de criação e partilha da arte da palavra. Assumir este cargo é um privilégio e um compromisso: dar continuidade ao caminho percorrido, promovendo o diálogo entre vozes emergentes e outras consagradas, num constante exercício de renovação e descoberta.
Temos sonhos e objetivos. Os primeiros serão sempre bússola; os segundos concretizam-se com o profissionalismo que nos move.
Tal como o mote, esta será sempre uma revista inacabada. Não se trata de ausência, mas de possibilidades em aberto, de fragmentos que preencherão as nossas páginas em cada edição e que — gostamos de acreditar — ecoam para lá da última palavra impressa. Uma revista em constante descoberta. O inacabado é um mundo pleno de vazios.
Que esta edição nos inspire a preenchê-lo e a reinventar os contornos da literatura.
Paula Campos