Palavras à solta, perdidas ao vento,
outras acolhidas – guardadas no tempo.
Inacabado requinte ou desilusão?
Voaram páginas lidas em pensamento,
conchas fechadas, ostracizadas,
despenteadas, mal interpretadas,
folhas rasgadas ou violadas sem dó.
Magoa-me quem as reduz a pó,
sendo elas tecidas com fios coloridos,
suaves, doces ou requintadas,
belas, poesia, textos musicados,
quadros pintados, telas inacabadas.
O reverso da palavra amor é dor,
da alegria, a sombra da ausência.
Essência perdida, quebra de excelência,
uma obra elegante e prazerosa,
agora sem som, sem cor, sem voz.
Pintor de palavras, arquiteto das letras,
músico, argumentista, escultor de silêncios.
Solto a fantasia, crio arte sensorial,
mas tudo o que não se escreve ou molda
desfaz-se na areia dos dias.
Do não dito, ou escrito, ou esculpido,
nasce a angústia do que poderia ter sido.
Na galeria do tempo cabe o perfeito e o imperfeito,
o belo e o feio, a dor e o amor, a vida
num traço interrompido, suspenso no infinito.