Se pedisse para me leres descobririas um caderno:
cheio de páginas pautadas,
quadriculadas, lisas
e outras tantas caídas,
folhas agrafadas, dobradas, amassadas
rascunhos que não passaram de intenções.
Porque não sei definir-me
nas palavras que cabem nos dicionários,
sou texto escrito à margem
onde a pontuação me cala nas reticências
que coloco entre as linhas paralelas.
Porque não sei definir-me
num resultado exato,
sobra-me tanto para acrescentar
às multiplicações do infinito,
prova dos nove de erros insistentes
nos quadrados das linhas que se cruzam.
Porque não sei definir-me
na certeza do traço ou em desenhos abstratos,
resistem as folhas imaculadas num eterno porvir,
de tão brancas que são.
Porque nunca soube definir-me
pertença de um único lugar,
quando os teus olhos e a pele dos teus dedos
acabarem por me ler,
coloca-me
na prateleira
que te sustenta
o coração.


