Autor(a):

José Manuel Batista

Escreva com tomates!

No dealbar do século XX, os proponentes da gestão científica observaram que longos períodos ininterruptos de trabalho resultavam numa produtividade medíocre. Na década de oitenta, um estudante italiano em apuros deitou a mão à ideia para superar as suas dificuldades escolares.

Acabou com as longas e sonolentas sessões de estudo e passou a dividir os seus projetos em atividades que podia concluir em 25 minutos, após o que descansava 5 minutos. Depois de 4 sessões, fazia um intervalo de 15 minutos.

Deu à coisa um toque do estilo italiano, cronometrando-se com o viçoso tomate de plástico com que la mamma assegurava que o tagliatelle alla carbonara ficava al dente e batizando-a com o melodioso nome de tecnica del pomodoro. [1]

Nasceu assim a lenda dos Tomates do Francesco Cirillo que, como a do Pé de Feijão do João, tem lições não só para estudantes, mas para todos que labutam em projetos complexos.

Os fãs asseveram que a técnica ajuda a combater a procrastinação e o sentimento de impotência perante trabalhos de grande dimensão, que reduz as distrações, que aumenta a concentração e a produtividade, que combate a fadiga e o sedentarismo, que estimula a automelhoria e que induz uma dinâmica de vitória. Um escritor não poderia pedir mais!

Suponha que dispõe de 30 dias para entregar um texto com 2500 palavras. Consulta o calendário e constata que só poderá escrever em 20 desses dias, e não mais do que uma hora por dia. Grosso modo, tem 40 tomates para completar a tarefa, à média de 62,5 palavras cada 25 minutos.

Convencido da exequibilidade da empresa, senta-se ao computador, aciona o temporizador e ataca o teclado. Pouco depois, para, observa o que já escreveu e medita profundamente no que se poderá seguir.

O alarme emitido pelo tomate sobressalta-o, e dá-se conta de que escreveu apenas umas míseras 14 palavras. Indiferente ao parco resultado do esforço, a técnica ordena-lhe que se levante, caminhe, faça alongamentos, respire fundo, limpe o pó, beba água, mexa-se!

Após a pausa, que dura 5 minutos — e só 5 minutos —, volta à carga, e fica surpreendido ao notar, no final do segundo tomate, que mais do que triplicou a sua produção: conseguiu escrever 50 palavras!

Conhece a estória do badocha que, desapontado pela falta de resultados três meses após a sua inscrição no ginásio, se espantou quando lhe disseram que não bastava o ato de registo, era mesmo preciso ir lá malhar?

Pois aqui é tal e qual: só pela insistência no processo (fixar datas-limite, estimar tempos, monitorar produção, respeitar o seu corpo, desafiar-se), é que a técnica dos tomates o auxiliará a atingir os seus objetivos.

[1]              Em português, em vez de técnica do tomate, usa-se habitualmente método pomodoro, como se desconhecêssemos o fruto.

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AUTOR(A)
José Manuel Batista

José Manuel Moreira Batista é economista, consultor e formador, com uma longa carreira na gestão empresarial e docência. É licenciado em Administração e Gestão de Empresas pela Universidade Católica Portuguesa e MBA pela Universidade Nova de Lisboa. Recentemente concluiu uma pós-graduação em Escrita de Ficção na Universidade Lusófona.

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