No dealbar do século XX, os proponentes da gestão científica observaram que longos períodos ininterruptos de trabalho resultavam numa produtividade medíocre. Na década de oitenta, um estudante italiano em apuros deitou a mão à ideia para superar as suas dificuldades escolares.
Acabou com as longas e sonolentas sessões de estudo e passou a dividir os seus projetos em atividades que podia concluir em 25 minutos, após o que descansava 5 minutos. Depois de 4 sessões, fazia um intervalo de 15 minutos.
Deu à coisa um toque do estilo italiano, cronometrando-se com o viçoso tomate de plástico com que la mamma assegurava que o tagliatelle alla carbonara ficava al dente e batizando-a com o melodioso nome de tecnica del pomodoro. [1]
Nasceu assim a lenda dos Tomates do Francesco Cirillo que, como a do Pé de Feijão do João, tem lições não só para estudantes, mas para todos que labutam em projetos complexos.
Os fãs asseveram que a técnica ajuda a combater a procrastinação e o sentimento de impotência perante trabalhos de grande dimensão, que reduz as distrações, que aumenta a concentração e a produtividade, que combate a fadiga e o sedentarismo, que estimula a automelhoria e que induz uma dinâmica de vitória. Um escritor não poderia pedir mais!
Suponha que dispõe de 30 dias para entregar um texto com 2500 palavras. Consulta o calendário e constata que só poderá escrever em 20 desses dias, e não mais do que uma hora por dia. Grosso modo, tem 40 tomates para completar a tarefa, à média de 62,5 palavras cada 25 minutos.
Convencido da exequibilidade da empresa, senta-se ao computador, aciona o temporizador e ataca o teclado. Pouco depois, para, observa o que já escreveu e medita profundamente no que se poderá seguir.
O alarme emitido pelo tomate sobressalta-o, e dá-se conta de que escreveu apenas umas míseras 14 palavras. Indiferente ao parco resultado do esforço, a técnica ordena-lhe que se levante, caminhe, faça alongamentos, respire fundo, limpe o pó, beba água, mexa-se!
Após a pausa, que dura 5 minutos — e só 5 minutos —, volta à carga, e fica surpreendido ao notar, no final do segundo tomate, que mais do que triplicou a sua produção: conseguiu escrever 50 palavras!
Conhece a estória do badocha que, desapontado pela falta de resultados três meses após a sua inscrição no ginásio, se espantou quando lhe disseram que não bastava o ato de registo, era mesmo preciso ir lá malhar?
Pois aqui é tal e qual: só pela insistência no processo (fixar datas-limite, estimar tempos, monitorar produção, respeitar o seu corpo, desafiar-se), é que a técnica dos tomates o auxiliará a atingir os seus objetivos.
[1] Em português, em vez de técnica do tomate, usa-se habitualmente método pomodoro, como se desconhecêssemos o fruto.


