No átrio, abro a porta da sala e o som bate-me de frente. Fico hipnotizada pelos feixes de luz verde que sobem do palco. Movem-se da direita para a esquerda, hipnóticas. Uma luz avermelhada incide na plateia. Parecem ondas, conforme se movimentam ao som da música e ao ritmo do “mosh”.
O resto da sala está na penumbra, negra.
Os ecrãs mostram o vocalista da banda de guitarra em punho e microfone estático. Não se percebe o que canta, devido à distorção do som, amplificada pelo eco da música que bate nas paredes e rodopia na sala.
O ritmo da bateria pulsa-me no peito e põe o sangue a correr. Não se consegue falar e os ouvidos ficam dormentes.
O som da música eleva-se no ar e os jogos das luzes não nos deixam tirar os olhos do palco. Algumas canções reconhecemos aos primeiros acordes e sabemos de cor, porque nos acompanharam em algum momento da nossa vida, é que às vezes a angústia não tem som, mas há sempre uma música que expressa exatamente o que sentimos.
Labaredas são disparadas da beira do palco com foguetes. O cheiro da pólvora chega às bancadas e invade as narinas. Inspirada pelo frenesim, a multidão salta e agita os braços no ar. A sensação é de sermos transportados para outra dimensão. Um mundo de som e efeitos de luzes. A plateia começa a formar um corredor à espera que o líder da banda dê o mote. Com o sinal do refrão, embatem uns nos outros e iniciam o círculo, o “mosh pit” começa. O cuidado dos participantes é visível, porque o lema é diversão e aproveitar o momento. Ali, não pensas em mais nada. O corpo move-se ao ritmo da batida e soltas todas as inseguranças. Corres, chocas e pulas com os outros num frenesim musical libertador. De braços levantados no meio da multidão, dou por mim a rir com um homem contra quem choquei de costas. Ele faz sinal com o polegar de que está tudo fixe. Aceno com a cabeça e, com um toque no ombro, seguimos de braços no ar com os dedos em formato de cornos. A música amplifica as emoções e cria espaços para as transformarmos e conectar com outros, os que entendem o nosso sentir.
As músicas vão desfilando e, quando dás por isso, anunciam a última. Começamos todos a pedir só mais uma. Falta o bis. Fazem a vontade ao público e tocam duas músicas como agradecimento de toda aquela troca poderosa de energia positiva.
Quando sais para a rua percebes que estás com uma estática nos ouvidos que não te permite escutar distintamente os sons em redor. E passa despercebido o ar frio que agora recebes no corpo, depois do abafo sentido da plateia. Sacodes a cabeça, mas a sensação permanece. Ris e pensas, que concerto brutal. Ouvir uma banda a tocar ao vivo é espetacular e ficas ansioso para o próximo.


