No princípio era o verbo,
e do verbo só conhecias a sede e a fome.
Trazias secura e no beijo buscavas a frescura,
como se o sol se abrisse à pétala.
Em descidas cadentes ao altar do corpo
vais mordendo o canto do lábio
e concitas, como quem entoa uma canção:
desliza a camisa, botão a botão.
Serves-te do vício insaciável e, na teia
das dobras quentes no branco do lençol,
aninhas suspiros na letargia de confortos
onde a ilusão dança na luz que te seduz.
Teces labirintos em olhares famintos
inflamando ecos no desassossego dos dedos
e sulcas a polpa orvalhada da pele.
Cálice entregue à boca,
líquido que pelo queixo escorre,
bálsamo para as feridas
na berma da solidão,
onde já só resta o ajoelhar da oração.
A taça e o pão
língua na língua
mão na mão,
por fim,
entregas-te ao palco da carne,
alcançada a redenção.


