Autor(a):

Ana F. Pinheiro

Paz é aconchego. Aconchego é perdão. Perdão é reconciliação.

Há muito que escrevo, para mim, para ti, para nós.

Há muito que procuro, ao escrever, reconciliar-me comigo, contigo, connosco.

Há muito que espero, ao escrever, encontrar-me, encontrar-te, encontrarmo-nos.

Passeio-me longas horas na emoção, entre letras cruzadas, palavras unidas, no sofrimento esmagador que a tua ausência transporta, em mim, em ti, em nós.

Recordo-me de imensas noites ao sereno. Jornadas inquietas, na busca inclemente de um alento que demora.

Quem és tu? Onde estás? Como és? Quando chegas? Frases feitas. Perguntas batidas. Uma espera que se faz desoladora. Ansiosa.

Olhar o outro. Olhar para o outro. Reconhecer nele aquilo que o destino teima em não trazer. Suplicar, esconder, envergonhar. Desejar o alcance de uma realidade opaca. Gasta e arisca. Escorregadia. Que passa nesta rua, nesta porta, e segue o seu rumo sem sequer se fazer anunciar.

Será que a ofuscação é causa de tamanho desprezo? Será que a mão jamais tem força para te agarrar? Tão depressa parece que vens para ficar, como partes sem mais delongas. Quão efémera e indiferente és à dor que a tua ausência provoca.

Mas um dia, um dia tudo muda: percebo que o que procuro fora, na verdade, esteve sempre dentro de mim. Aqui ao lado, mesmo nos dias mais turbulentos.

Hoje que te conheço, recordo os tempos em que te (me) procurei e percebo o valor da conquista alcançada. 

Descobrir-te traçou um marco que jamais pensei alcançar.

Não buscar o aval externo como forma de suprimento. Assumir e respeitar escolhas, compreender as vivências, deixar fluir a Natureza, aceitar que sou parte dela.

Viver o momento, sem manobrar o presente e controlar o futuro.

Perdoar-(me) e ser grata.

Tomar consciência e abolir a culpa.

Viver em paz.

Paz é aconchego. Aconchego é perdão. Perdão é reconciliação.
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AUTOR(A)
Ana F. Pinheiro

Ana F. Pinheiro, nasceu em 1985, em Almancil, Loulé. Casada, mãe de dois rapazes, licenciou-se em Educação Social. Atualmente exerce funções de Diretora Técnica numa IPSS.

Apaixonada pela leitura, descobriu o prazer da escrita com a participação no Concurso de Escrita Criativa Poeta António Aleixo. Permitiu-se soltar as suas palavras, pondo a sua «Escrita em Ação» e percebeu que é a escrever que se sente completa, feliz e realizada.

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