Embrenhada na preparação de mais um livro, é inevitável não toldar quase todas as ideias de escrita ao redor de um tema: o que fazer com o tempo que (ainda) nos sobra. Tudo isto só passa a ser um tema quando nos apercebemos que passámos a vida inteira a interiorizar que «há um tempo certo para tudo.»
Eis que.
Disseram-lhe que havia um tempo certo para tudo.
Que os sonhos tinham prazo de validade.
Que depois dos 40, ou dos 50, ou dos 60, já não se devia arriscar.
Mas, chegados até aqui, eis que.
Ela começou a desconfiar dessas regras.
Colaram-nos um prazo de validade, onde (quase) tudo deverá começar a perecer lentamente, esquecido a um canto, até que vida deixe de ser vida. Mas a questão que a maioria de nós enfrenta é que, quando se alcança o prazo de validade, ainda estamos muito válidos. Ainda temos tudo para fazer, e, mais, agora é que nos apetece fazer coisas que já estão para lá do tempo.
E, chegados até aqui, eis que.
Decidiu escrever as suas próprias regras.
É com os anos que aprendemos a ouvir o instinto, que queremos fazer as pazes com o corpo, que só queremos escolher o que vale a pena, que ousamos dizer “não” sem nos justificarmos. É depois do tempo que percebemos que o medo não desaparece, mas também não é maior do que nós. Que não manda em nós.
E, chegados até aqui, eis que.
Ela já não tem vinte anos. E ainda bem.
Já não aceita metades. Já não implora presença.
Já não se prende a lugares onde precisa de se diminuir para caber.
Agora, quer viver inteira. Com rugas, certezas, dúvidas e recomeços.
E, acima de tudo, com liberdade.
Não há idade certa para ser feliz, há apenas coragem para o permitir. E essa liberdade, que chega já depois do nosso tempo expirar, vem com a certeza de que não precisa de acontecer no tempo certo, até porque é depois do tempo que a vida ensina que nada do que é certo tem um tempo errado para acontecer. É como se tudo o que vivemos «no tempo certo», servisse (apenas) para nos ensinar o que não vamos querer viver no tempo errado. Porque a verdade é que a vida não se mede em décadas — mede-se em decisões.
Agora, chegados até aqui, eis que.
Sempre que ela escolhe recomeçar, escolhe viver.
Mesmo que doa. Mesmo que digam que “já passou o tempo”.
Ela sabe que ainda está a tempo.
A tempo de mudar de profissão.
De terminar um casamento ou começar um amor.
De voltar a estudar, a sonhar, a escrever.
De dançar sem razão, de partir sem aviso, de acreditar de novo.
Talvez o nosso tempo, seja depois do tempo. A seguir ao certo. Depois do medo. Não há nada mais revolucionário do que uma mulher que, depois de anos a viver para os outros, decide viver por si.
Portanto, chegados até aqui, eis que.
Talvez este seja o teu tempo.
E não, não estás atrasada.
Estás no momento exato para te escolheres.
E quando o fazes, uma nova vida começa.
Não porque é fácil.
Mas porque, finalmente, é tua.