Rostos colados ao vidro.
O vapor desfaz o ouro das luzes.
Dentro, cristal.
Fora, estômagos vazios.
Um miúdo lambe o reflexo.
O chão — frio, impecável.
Corpos em valsa sem peso.
Sapatos sem par
seguem o compasso da espera.
O olhar da criança corta.
Não pede — acusa.
Lá dentro, os senhores da guerra.
Taças erguidas por mãos limpas.
Nos brindes — gargantas que soltam pólvora.
O olhar da criança
não sabe chorar.
Os pés, frios.
A casa — poeira e ausência.
Sem pai.
Sem mãe.
Só o vidro
entre ela
e o mundo que brilha indiferente.
Ninguém virá.
Somos mundo.
Virámos costas.
Fechámo-nos em silêncio —
requinte do abandono.