Sempre à espera de ser
Encostas-te ao alpendre remoendo
Os dias em que nada se fez
E o homem que não disse nada
Quando ao passar sorriste
E no gato que morreu
Quando as telhas apodreceram
À espera da chuva
Que não molhou ninguém
Nem a erva cresceu
Nem morreu na valsa lenta
Com as nuvens a passar
No redemoinho das lágrimas
Que molham os lençóis.
Aquelas mãos que já não seguram nada
Não são só a ti que vacilam
Porque o vazio também ampara
Embora aqueles braços já nada carreguem
Da dormência de te segurarem
No teu sono.
Nada pesa sobre ti
Só a água que corre quando entras no rio
E desejas que a corrente te esmague
Sem um bilhete
Nem nenhuma voz ao fundo
Só a água, só o rio.