Ser ou não ser um revisor? Eis a questão com que me deparo sempre que inicio uma formação de nível inicial em revisão de texto. Afinal, até que ponto o revisor deve intervir sem abafar a voz autoral?
O revisor desempenha um papel crucial no purgar de um texto, uma espécie de zelador do rigor linguístico, moldando a mensagem, quando necessário, para que o texto flua com a leveza e propriedade. A sua principal missão é assegurar que a mensagem do autor seja comunicada de maneira eficaz e objetiva. Contudo, a delimitação entre um certo aprimorar e o sobrepor-se à voz do autor é, por vezes, uma linha ténue que exige sensibilidade e discernimento.
O revisor, ainda que sempre na sombra, deve ser um profissional qualificado, cujo papel vai um pouco além da mera correção ortográfica e/ou gramatical, não se limitando a identificar ou a corrigir gralhas ou erros de concordância. O seu olhar de lince deve percorrer atentamente cada linha do texto, restaurando a ordem gramatical e analisando a estrutura textual, a coesão, o encadeamento de ideias, procurando garantir uma narrativa fluida e lógica. Pode e deve inclusivamente dar sugestões de reorganização de tópicos e de parágrafos, eliminar redundâncias, articular as diferentes partes do texto.
O primeiro passo é compreender profundamente o estilo do autor. Cada escritor possui uma forma única de expressão, uma voz autoral que confere identidade à obra. O revisor deve ser capaz de discernir entre as correções necessárias para manter a coerência e a clareza do texto e as intervenções que descaracterizem a autenticidade do autor.
A preservação da voz autoral não significa, no entanto, que o revisor deva abster-se de sugerir melhorias. Pelo contrário, é da sua inteira responsabilidade apontar possíveis aprimoramentos, mas sempre com o cuidado de respeitar o estilo e a intenção original do autor. Não sendo hoje tão simples o diálogo construtivo de outrora entre revisores e autores, pelas circunstâncias do meio editorial, o revisor deve garantir que não interfere na essência do texto.
Ao considerar o âmbito da sua intervenção, o revisor deve avaliar a magnitude das mudanças propostas e o impacto que podem ter sobre o tom, estilo e mensagem do autor. Modificações excessivas podem, inadvertidamente, transformar a obra de tal forma que ela se torna mais uma representação do revisor do que do próprio autor.
Em última análise, o equilíbrio é a chave. A intervenção de um revisor não deve eclipsar a singularidade da voz autoral. A arte de rever reside exatamente na capacidade de aprimorar, sem subverter; de sugerir, sem impor. Nesse delicado equilíbrio, reside a habilidade do revisor em ser um facilitador, um agente que amplifica a mensagem do autor sem perder de vista a originalidade que caracteriza cada obra. Ser revisor é, portanto, mais do que simplesmente corrigir; é uma colaboração artística que valoriza e preserva a singularidade de cada voz no vasto coro da escrita.