Vens subtil.
Leve como uma pena que tu própria já foste.
Agarras-me a mão ainda adormecida e invades-me.
Chamas-te poesia. Dizem eles. A mim chamas-me pelo nome.
Vens austera.
Perversa como só tu consegues ser.
Empurras-me para o barulho que se faz na sombra.
Perfeita como um não que ecoa na bandeira que trazes ao peito.
Vens completa.
Envolta em seda na brilhante solidão.
Lambuzas-me o ego com esse olhar magro de gula.
Irradias a luz difusa como quem regista na pele uma lenda submissa.
Vens inacabada.
Cheia de mim asseguro-te lealdade.
Picas o rebordo e sais fundida numa lava de dúvida.
Queres manter o requinte de um futuro mais leve e acabas morta.
Vens. E ficas.
Poetizada por quem te ama e te destrói.
Mais afogada em pássaros machucados do que em fé.
Levantaste voo e acabaste eternizada em letras de chumbo azul.


