À contraluz na noite turva
Que nos escapa
O desejo marca o compasso
Das horas frias
E lateja como uma ferida infetada.
O desejo é a própria ferida
Ruborizada e ardente.
Enraízo-me na tua pele e nos teus olhos
A minha vida é uma rasura sombria
Estranha a qualquer Deus
Mas posso assegurar-te que
A única aspiração que tenho
É que o teu voo cruze o meu céu azul
E nunca conheças o lugar da queda,
Ainda que isso seja inevitável.
Neste inverno profundo
Há uma vastidão de pequenas coisas
Que podem ser a última vibração
De um mundo raro.
E é a cerca arbórea do desejo
Que nos garante o oxigénio
Até a próxima Primavera
Onde seremos pássaros em carne viva
Que nas cicatrizes constroem ninhos.